quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Entrevista com Frei Antônio Moser sobre sexualidade


Entrevista apresentada pelo Pe. Eutrópio no encontro com os crismandos do Setor Matriz - Data: 29/007/2012



Entrevista com Frei Antônio Moser, teólogo e doutor em Teologia Moral ao Jornal de Opinião edição de 05 a 11 de novembro de 2007.
1. O que é mesmo sexualidade?
A sexualidade é uma das energias básicas da nossa condição humana. É através dela que nos percebemos como pessoas, capazes de nos abrir ou fechar ao mundo externo. Quem fala da sexualidade fala também de afetividade, de diálogo, de acolhida, de carinho, de ternura, de capacidade de amar, no mais amplo e profundo sentido da palavra. Deus é amor, Ele nos criou por amor e para o amor. A sexualidade é uma forma a nós confiada a serviço desse amor. Portanto, se realiza só quem consegue integrar sua sexualidade no sentido amplo e profundo da palavra.
2. O que é uma pessoa sexualmente realizada?
Hoje se fala muito no direito que todos teríamos de ser felizes. Está certo. Apenas é preciso definir o que vem a ser a felicidade. E, normalmente, tem-se uma concepção muito pequena e muito egoística de felicidade. Em nome da felicidade muita gente pisa nos outros e até nos entes mais queridos. Por isso, prefiro o conceito de realização. Essa não dispensa o esforço, nem a renúncia, nem a cruz. Cristo realizou-se pela cruz e mostrou que esse é o caminho da plenitude humana. Isso é difícil de ser compreendido em nossos dias. Para produzir um livro tenho que trabalhar; para ser um bom profissional, tenho que me empenhar; para conseguir algum bem material, só tenho duas opções: trabalhar ou roubar. Assim também no campo da afetividade e da sexualidade: a realização pede capacidade de diálogo, de renúncia, de sacrifício,é fruto de conquista!
3. Um pessoa sexualmente ativa pode não ser realizada sexualmente?
O prazer sexual se constituiu numa espécie de mito. Só que hoje sempre mais aparecem referências a disfunções sexuais e produtos com poderes milagrosos para resolvê-las. Isso significa que nem a obtenção do prazer biológico é tão fácil. O verdadeiro prazer, humano e humanizante, é fruto de uma virtude: a do amor. Ao que tudo indica, nada é mais cansativo, a médio e longo prazo, do que sexo sem amor. Vejam as “celebridades”, sempre insatisfeitas, que passam de cama em cama, sorrindo para os fotógrafos, mas confessando que são infelizes.
4. De que maneira a afetividade, contribuiu para a realização sexual das pessoas?
Como o evangelista João nos ensinou, quem não ama é condenado à solidão, ao vazio existencial. O Papa Bento XVI em sua encíclica Deus é amor, observa que há níveis diferentes e expressões diferentes de amor: filial, esponsal, paterno/materno, de amizade. Esses amores não se contrapõem, pelo contrário, todos provêm da mesma fonte: Deus. Em todos estes níveis requer-se empenho e, ao mesmo tempo, um apelo profundo de Deus: não tenham medo de amar. A sexualidade é uma energia poderosa, mas ambivalente e até selvagem. É uma energia que nos empurra para “fora”; a afetividade é como uma giga-memória, que recolhe os frutos dessas “incursões” da sexualidade. Se soubermos trabalhar nossas emoções, elas vão moldando uma  personalidade, que não se deixa guiar pelos impulsos passionais, mas que vai administrando, com sabedoria, toda a sua vida, inclusive sua sexualidade.
5. Hoje em dia os jovens justificam sua vida sexual no período do namoro dizendo que precisam se conhecer, do ponto de vista sexual, antes de assumirem um compromisso mais sério. Muito deles acusam a Igreja de “careta” por não aceitar isso. Como lidar com esse tipo de situação?
Considerando-se o aspecto meramente biológico, fazer sexo é relativamente fácil. O difícil é aprender a amar. Isso é uma arte e não se aprende fazendo sexo. Pelo contrário: o sexo só realiza a pessoa à medida que é fruto de um amor compromissado. Ninguém pode ser feliz transformando pessoas em objeto. Especialmente no nível tão profundo de relacionamento só há uma certeza: quem come o fruto verde irá sentir o amargor na boca

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