O COMEÇO DE UMA BOA NOTÍCIA
Queridos seguidores e seguidoras de Jesus! Sinto uma alegria muito especial em
conversar com vocês.
Permitam que me apresente. Sou Marcos. Sou conhecido como o evangelista Marcos,
aquele que escreveu o primeiro Evangelho de Jesus Cristo.
Eu sei que, na Bíblia de vocês, o primeiro evangelho que aparece é o de Mateus.
Na verdade, meu amigo Mateus, bem como Lucas, escreveram depois de mim a respeito da vida do nosso
Mestre e Senhor. Aliás, várias coisas que eles escreveram se basearam no meu
escrito.
Na verdade, não escrevi sozinho o Evangelho. Para isso contribuiu um grupo
grande de pessoas de fé. Nós tivemos a graça de conhecer Jesus Cristo através
da pregação de Paulo, de Pedro e de outros discípulos e discípulas de Jesus.
E Ele chama pelo nome!
De casa em casa
O entusiasmo tomou conta de nós e decidimos seguir para
valer a Proposta do Filho de Deus.
Todos nós: mulheres e homens, crianças, jovens e idosos nos
reuníamos, de preferência, nas casas. Aí conversávamos, rezávamos, celebrávamos
a Ceia do Senhor e nos instruíamos sobre a doutrina e a prática de Jesus.
Estes encontros comunitários nos ajudaram a entender e a
viver, com mais clareza e profundidade, a mensagem daquele que foi se tornando
o nosso único Mestre e Salvador. A nossa própria casa era um espaço de
encontros e reuniões de uma dessas comunidades cristãs.
Foi nesses encontros que aprendi o que é ser discípulo de
Jesus. O apóstolo Pedro se hospedou algumas vezes lá em casa. Se quiserem
conferir, leiam Atos dos Apóstolos 12,12. Aí vocês vão ver que meu nome
completo é João Marcos. Minha mãe se chamava Maria e era uma pessoa que, pela
sua fé e pela sua vida dedicada à comunidade, me ensinou grande parte das
coisas que pratiquei e anunciei.
Missionário em Roma
Ainda no livro dos Atos dos Apóstolos vocês vão me encontrar
em pleno trabalho missionário, acompanhando meu primo Barnabé e Paulo (At 12,
25; 13, 5). Eu gostava muito de ser um evangelizador pelo mundo afora, assim
como o amigo Paulo, de quem fui colaborador e de quem aprendi inúmeras coisas,
especialmente o que se refere à fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo (Fm
24).
Graças a Deus, ele gostava de mim, me corrigia e me
valorizava muito (2Tm 4, 2).
O trabalho missionário me levou, mais tarde, a Roma, capital
do Império Romano. Lá tive a sorte de conviver com Pedro e a comunidade cristã
daquela cidade. Eu aprendi a ter grande estima e admiração por Pedro. A afeição
era recíproca: ele mesmo me chamava de “meu filho” 5,14).
Tempos difíceis
Na medida em que eu ia visitando as comunidades cristãs
espalhadas em muitos lugares do Império, ia crescendo em mim o desejo de
escrever a respeito de Jesus Cristo.
Fui percebendo que muitas coisas que Jesus havia feito e
ensinado estavam sendo esquecidas. Estávamos no ano 70. Já havia passado 40
anos da morte e ressurreição de Jesus. Além disso, muitos cristãos e cristãs
tinham sido perseguidos e mortos. Em Roma mesmo, nós passamos por muitas
situações de sofrimento.
Apenas para citar uma dessas situações, lembro que o
imperador Nero, no ano 64, mandou incendiar Roma e colocou a culpa nos
cristãos. A perseguição foi duríssima!
Além disso, havia
muita indigência, fome e abandono. A maioria das pessoas que fazia parte
das comunidades cristãs era bem pobre, sem casa e sem segurança.
Destruição de Jerusalém
Não bastasse isso, neste mesmo ano 70, recebemos a notícia de que cidade de
Jerusalém foi destruída, juntamente com
o Templo, pelo exército romano. Minha casa ficava naquela cidade.
Jerusalém era considerada a cidade santa, e o Templo, o
lugar santíssimo. Muitos irmãos e irmãs cristãos moravam lá. Os que escaparam
foram se dispersando pelo mundo. Tudo isto causava muita tristeza em nosso
coração e alguns da comunidade estavam desistindo de viver a proposta de Jesus.
Há estudiosos que dizem que este Evangelho foi escrito em
Roma; outros dizem que foi na Síria, região próxima à Palestina. O importante é
o motivo que nos levou a escrever: foi para animar as comunidades cristãs
e ajudá-las a perseverar no caminho de Jesus. Para isso,
assumimos a missão de pesquisar e
responder à pergunta : quem é Jesus?
O primeiro título que nós demos foi: Começo do Evangelho de Jesus Cristo,
Filho de Deus. Só mais tarde, a Tradição deu o nome de Evangelho
de Marcos.
Vamos cantar e refletir...
Tu te abeiraste na praia
Não buscaste nem sábios, nem ricos
Somente queres que eu te siga....
Senhor, Tu me olhaste nos olhos
A sorrir, pronunciaste meu nome
Lá na praia, eu deixei o meu barco
Junto a Ti, buscarei outro mar
Tu sabes bem que em meu barco
Eu não tenho espadas nem ouro
Somente redes e o meu trabalho...
COMO SER UMA PESSOA DISCÍPULA DE JESUS?
Vocês já sabem que meu nome é Marcos e sabem que escrevi o Evangelho de Jesus
Cristo para animar as comunidades cristãs, incentivando-as, apesar dos muitos
problemas, a permanecerem firmes na fé e na proposta de Jesus.
Problemas que enfrentamos
Estes problemas referem-se, sobretudo, à perda do entusiasmo
em seguir a Jesus Cristo devido a perseguições externas, como a do Imperador
Nero. São Pedro e São Paulo foram mortos neste período entre os anos de 64 a
67.
A maioria das pessoas que tiveram o privilégio de ver e seguir
a Jesus, antes de sua Morte e Ressurreição, já não estava mais neste mundo. Os
testemunhos delas foram muito importantes. Mas alguns no meio de nós já
levantavam dúvidas se aqueles testemunhos eram verdadeiros ou não. Certas
pessoas até levantavam suspeitas a respeito da Ressurreição de Jesus.
Além disso, entre nós foram aparecendo atitudes de
competição, ciúmes, ambição e outras formas de egoísmo que criam divisões entre
os membros da mesma comunidade. Isto contradiz a Proposta de Jesus, que veio
trazer a paz e a unidade.
Uma das grandes dificuldades que enfrentamos refere-se à fé
em Jesus Cristo como o Messias-Salvador.
Havia um grupo de judeus
não-cristãos que afirmavam que Jesus não podia ser o Salvador, pois o
Antigo Testamento ensinava que um sujeito condenado à morte na cruz era
considerado “maldito de Deus” (cf. Dt 21, 23). Então, como um maldito de Deus
pode ser o Messias?
Isso abalava a consciência de muita gente que se perguntava:
Afinal, quem é Jesus? Será que Ele realmente é o Messias, o Filho de Deus, o
nosso Salvador?... Tudo isto fazia levantar a questão que, para nós, era
fundamental responder: como seguir a Jesus?
Como seguir verdadeiramente a Jesus?
Nós, quando
escrevemos o Evangelho, pensávamos nestes problemas todos. Queríamos anunciar o
começo de uma Boa Notícia. Só o começo, porque ela deve continuar na vida das
pessoas cristãs. Deve ser vivida pela ação e pela palavra de quem segue o
caminho de Jesus. Cada momento de nossa vida deve ser inspirado pela Boa Nova
de Jesus. O compromisso com o Projeto de Jesus deve ser continuamente renovado
e levado à execução.
As pessoas prediletas de Jesus
Por isso, ao
escrever o Evangelho, demos muita importância aos discípulos e discípulas. Elas
são pessoas prediletas de Jesus. Se vocês lerem atentamente o Evangelho que
escrevemos, facilmente observarão que:
• A primeira coisa que Jesus faz é chamar discípulos (Mc 1,
16-20).
• A última coisa que Jesus faz é chamar discípulos (Mc 16,
7. 15).
• E, do começo ao fim de sua missão, Jesus sempre os leva
consigo.
Os seguidores e
seguidoras de Jesus são a sua família: “Eis a minha mãe e os meus irmãos.
Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mc 3,
34-35).
Jesus, aos seus discípulos,
dá uma formação especial. Quando eles não entendem, Ele explica tudo de novo
(cf. Mc 4,34).
Jesus corrige
também a mentalidade e as atitudes de dominação e superioridade que, às vezes,
surgem entre eles: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos
e o servo de todos... Aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso
servidor; e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos”
(Mc 9, 35; 10, 43-44).
Seguir a Jesus sem voltar atrás
Por que nós
escrevemos isto? Para que as comunidades daquele tempo e também as comunidades
de hoje, das quais vocês fazem parte, saibam e sintam que, apesar dos muitos
problemas, é importante viver como discípulos e discípulas de Jesus. As pessoas
que o seguem com sinceridade são suas prediletas e podem, portanto, cantar com
entusiasmo:
“Me chamaste para caminhar na vida contigo! Decidi para
sempre seguir-te e não voltar atrás!”
E claro que
seguir a Jesus não é apenas cantar e dizer-lhe palavras bonitas. Afinal, Ele é
o Filho de Deus que se fez nosso Irmão. Essa bondade e humildade de Deus nos
fascinam! Essa verdade foi o que mudou minha vida e a vida de muita gente. Por
isso, nós iniciamos o Evangelho dizendo: “Começo da Boa Notícia de Jesus
Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1).
No fim, na hora
em que Jesus morre, novamente, nós declaramos pela boca de um centurião romano
que Ele é “verdadeiramente o Filho de
Deus” (Mc 15,38). Com Ele aprendemos a trilhar o caminho da
responsabilidade, da liberdade e da vida.
Vamos cantar!
Missão de Todos nós – Zé Vicente
Foi
Deus que me criou, me quis me consagrou
para anunciar o seu amor.(bis)
Eu sou como chuva em terra seca, pra saciar,
fazer brotar eu vivo pa amar e pra servir! (bis)
É missão de todos nós Deus chama, eu quero ouvir a sua voz! (bis)
Eu sou como a flor por sobre o muro (bis)
Eu tenho mel, sabor do céu
Eu vivo pra amar e pra servir. (bis)
Eu sou como estrela em noite escura. (bis)
Eu levo a luz sigo a Jesus.
Eu vivo pra amar e pra servir! (bis)
Eu sou, sou profeta da verdade. (bis)
canto a justiça e a liberdade.
Eu vivo para amar e pra servir! (bis)
OS PASSOS DA
CAMINHADA
Queridos seguidores e seguidoras de Jesus!
Cada um de vocês, como nós das primeiras comunidades cristãs, recebeu a missão
de anunciar a Boa Notícia de Jesus Cristo e sua Proposta de Vida e Liberdade.
Ser catequista não significa somente realizar encontros de catequese, mas é
aderir por inteiro, de corpo e alma, ao jeito de ser, de pensar, de amar e servir
do próprio Jesus Cristo. É caminhar na mesma estrada de Jesus.
Nós tínhamos certeza de que o caminho da paz e da plena realização humana era
Jesus e sua prática. No começo, tudo parecia fácil e encantador. Mas, ao
caminhar na estrada de Jesus, fomos enfrentando crises, dificuldades, dúvidas e
perseguições...
Enfim, fomos percebendo que seguir a Jesus não é apenas uma questão de boa
vontade, mas um processo, uma aprendizagem que vamos fazendo juntos, passo a
passo...
Essa aprendizagem se dá seguindo simbolicamente apresentada desde a
Galiléia até Jerusalém. A Galiléia é lugar social dos pobres,
explorados e marginalizados. Aí Jesus se criou, num lugar chamado Nazaré.
Junto com Maria e José, Jesus - o Filho de Deus - , sentiu em sua carne tudo
que um ser humano comum vive. E a partir daí que Jesus, em sua vida pública,
realiza a sua missão de libertação dos pobres e oprimidos.
Podemos apresentar essa caminhada em quatro etapas que
revelam o processo de crescimento dos discípulos de Jesus:
Mc 1, 1-15: Introdução e apresentação
1ª etapa: Mc 1, 16-34. Mostra o entusiasmo no início
da caminhada com Jesus.
2ª etapa: Mc 1, 35 - 8, 21. Mostra quem é Jesus pela
sua prática. No entanto, os discípulos entram em crise porque não conseguem
entender.
3ª etapa: Mc 8,22 - 13, 37. Mostra que seguir a Jesus
é tomar a cruz, como Ele. Os discípulos continuam sem compreender, parecem
cegos. Jesus procura esclarecê-los através da sua instrução, da sua catequese.
4ª etapa: Mc 14, 1
- 16,8. Com a morte de Jesus, tudo parece ter fracassado. No entanto, é o
momento muito especial para recomeçar de novo...
Mc 16, 9-20: Conclusão e resumo.
Estas quatro etapas são passos que mostram o caminho do
seguimento de Jesus. E uma forma didática para ajudar mi Catequese dos cristãos
e cristãs de ontem e de hoje.
E lembre-se: foi a partir da Galiléia, da periferia, o lugar
social dos oprimidos que, Jesus
desenvolveu sua catequese (prática e teoria) em vista da Proposta de Vida para
todos.
SEGUIR A JESUS COM ENTUSIASMO
Vamos falar:
• da introdução do nosso Evangelho de Marcos (1,1-15);
• da 1ª etapa: o entusiasmo que houve no início da caminhada de Jesus.
Apresento-lhes João, o Batista
Depois do título do nosso livro: Início da Boa Notícia de Jesus Cristo, o
Filho de Deus (1,1), apresentamos João Batista como aquele que prepara o
caminho do Senhor Jesus.
Vimos na pessoa e na missão de João Batista o cumprimento da Sagrada Escritura.
Por isto citamos duas frases do Primeiro Testamento: uma tirada do profeta
Malaquias 3,1: “Eis que vou enviar o meu mensageiro para que prepare o
caminho na minha frente”. Esta frase é bem semelhante à outra que se
encontra no livro do Êxodo 23, 20: “Eis que envio um anjo diante de ti para
que te guarde pelo caminho e te conduza ao lugar que tenho preparado para ti”.
Por que citamos estas frases? Porque elas apontam para alguém que caminha na
frente do povo. Quem é esse alguém? É a pessoa que recebe a missão de indicar o
caminho de Deus: o caminho da Liberdade e da Vida para os pobres.
No Primeiro Testamento foram as parteiras que
salvaram as crianças contra as ordens do Faraó... Foram Moisés, Aarão, Míriam e
tantos outros que, com coragem e persistência, ajudaram a organizar o povo e o
animaram no caminho do Êxodo, para sair da escravidão e conquistar a liberdade.
Foram os profetas e profetisas que, com coragem e lucidez, denunciaram a
opressão dos poderosos e apontaram o caminho da solidariedade e da justiça: o
caminho de Deus!
No Segundo Testamento é Maria de Nazaré que acolhe a
Palavra e em seu seio Deus se faz carne. E João Batista que aponta para Jesus e
prepara o seu caminho, o caminho do Novo Êxodo: libertação de todo tipo de
escravidão.
Hoje, são os
homens e as mulheres que, com muita fé e coragem, animam a caminhada do povo
tão sofrido e machucado, renovando- lhes a esperança de um mundo justo e
fraterno.
Um sujeito bem original
O profeta João vestia-se com simplicidade e pregava com toda
ousadia, do mesmo jeito dos profetas do Antigo Testamento. Nós o apelidamos de
“Batista” porque ele batizava cada um que estava disposto a se converter e
acolher a Boa Notícia do Reino de Deus.
O Batismo era um sinal muito forte e profundo. Entre nós,
nas primeiras comunidades cristãs, só o recebia quem acreditasse no Evangelho e
desejasse viver uma vida nova. Ao
mergulhar na água, a pessoa que aceitava o Batismo, mergulhava no Projeto de
Deus e passava a viver conforme a sua vontade.
O próprio Jesus veio
de Nazaré da Galiléia até à Judéia para ser batizado por João. Ele sabia o que
estava fazendo, mergulhou de corpo e alma na vontade de Deus.
Foi naquele
momento que o próprio Deus-Pai revelou quem é Jesus: “Tu és o meu filho
amado...”.
Fico emocionado só em pensar no dia em que eu, Marcos,
recebi o Batismo. Junto com a comunidade, acreditei no testemunho dos que
conviveram com Jesus e, assim, resolvi mergulhar por inteiro na construção do
Reino de Deus.
Deixar-se seduzir por Jesus
Vocês também, eu sei,
estão assumindo o Batismo como catequistas, animadores e participantes de
comunidades. Vocês, como eu, têm a certeza da presença de Jesus Ressuscitado.
Vocês, como eu, deixaram-se seduzir pelo amor dele e deixaram-se conduzir pelo
mesmo Espírito que guiou João Batista, Jesus e seus discípulos. Que Deus os
abençoe com toda espécie de graças!
Foi realmente grande
o entusiasmo que tomou conta de todos nós, seguidores e seguidoras de Jesus. No
início, tudo parecia fácil e encantador. Muitos, entre nós, abandonaram suas
profissões e até suas famílias para seguir radicalmente a estrada de Jesus.
Eu mostro isto
contando como aconteceu o chamado dos quatro primeiros discípulos: Simão,
André, João e Tiago (Mc 1,16-20). Eles representam a grande multidão que, com
disposição e alegria, deixou-se atrair por Jesus. De fato, onde Jesus se
encontrava, aí acorria muita gente, pois Ele irradiava amor e carinho
especiais.
Ele fazia maravilhas:
acolhia os pobres, curava os doentes, abençoava as crianças, reintegrava os
marginalizados, expulsava os espíritos maus, comia com os pecadores, aceitava
as mulheres como discípulas.
Jesus era um amigo
sincero dos que foram jogados para fora do sistema social, político, econômico
e religioso daquela época, na Palestina. Com Jesus, os céus se abriram
novamente, como foi revelado no momento do seu Batismo no rio Jordão.
Em Jesus, os céus se abriram: Deus novamente se mostrou
favorável, amoroso, terno, misericordioso e justo para com os oprimidos.
Ninguém podia imaginar que a Bondade e a Misericórdia de Deus pudesse chegar a
este ponto: tornou-se um de nós!
É bem como escreveu Paulo, de quem fui companheiro de
Missão: “Ele (Jesus) tinha a condição divina.., mas esvaziou-se a si
mesmo e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana...” (FL 2,6-7).
Um dia escutei teu chamado,/
divino recado, batendo no coração./
Deixei desta vida as promessas/
e fui bem depressa no rumo da tua mão!
Tu és a razão da jornada,/
tu és minha estrada,/
meu guia e meu fim./
No grito que vem do meu povo/
te escuto de novo/
chamando por mim.
Os anos passaram ligeiro/
me fiz um obreiro/
no reino de paz e amor./
Nos mares do mundo navego/
e às redes me entrego,/
tornei-me teu pescador.
Embora tão fraco e pequeno,/
caminha sereno/
com a força que vem de ti./
A cada momento que passa/
revivo esta graça/
de ser teu sinal aqui!
AS CAUSAS DO ENTUSIASMO NA CAMINHADA COM JESUS
Queridos seguidores e seguidoras de Jesus! Vocês sabem muito bem que ser
discípulo e discípula de Jesus é um processo que vai se dando pouco a pouco na
nossa vida. No Evangelho que escrevemos
nós mostramos este processo em quatro etapas:
1ª) Entusiasmo inicial;
2ª) Crise: desencontros e questionamentos;
3ª) A Cruz;
4ª) A morte de Jesus e o novo começo.
Primeira etapa
O que acontece nesta primeira etapa está relatado em Mc 1,16
a 6,13. Começa com a chamada dos discípulos à beira do lago e termina com o
envio para a missão. Jesus está na Galiléia e movimenta-se por todo canto. Com
Ele vão os discípulos e grande multidão.
O entusiasmo nesta primeira etapa se percebe por algumas
atitudes dos discípulos:
1) Deixam tudo para seguir a Jesus. Eles não têm
dificuldades de abandonar suas famílias, sua profissão e seus bens para aceitar
o chamado de Jesus. Seguir o Filho de Deus exige ruptura. Mas isto parece não
ser difícil. Pelo menos no início da caminhada.
2) Acompanham Jesus por todo canto. Vão com Ele na
sinagoga, nas casas até dos pecadores, nos campos, ao longo do mar; ficam a sós
com Ele e colocam-lhe suas dúvidas; atravessam o mar e entram em terra
estrangeira. Parece ser muito gostoso acompanhar Jesus em todos os lugares.
Pelo menos no início.
3) Participam da dureza da nova caminhada. Eles não
têm tempo nem para comer por causa da multidão que os procura; no fim do dia
sentem-se cansados e procuram um lugar retirado para poderem descansar. Mas
tudo isso não parece pesado, pelo menos no início.
4) Desfrutam da amizade com Jesus. Vão à sua casa,
convivem com Ele... Jesus também vai na
casa deles e se preocupa com os problemas da família deles; cura a sogra de
Pedro; a convivência parece ser muito íntima e familiar. Jesus chega até a dar
apelidos a João e a Tiago chamando-os de “filhos do trovão”; a Simão deu o
apelido de “Pedra”. Parece que é muito gostoso conviver com Jesus, pelo menos
no início.
5) Aprendem a discernir e seguir a nova linha. Com
Jesus adquirem uma nova visão a respeito de certas normas e aprendem a agir com
liberdade: arrancam espigas em dia de sábado, entram nas casas de pecadores,
comem sem lavar as mãos, não dão muita importância ao jejum. Por isso são
criticados pelas autoridades religiosas. Jesus, porém, defende seus discípulos.
Tudo isso dá um sabor fora e vitória, pelo menos no início.
6) Distanciam-se das posições anteriores. Recebem
instruções particulares de Jesus: as parábolas que Jesus conta ao povo Ele as
explica, em particular, aos discípulos quando estão sozinhos em casa. Ele diz: “A
vocês é dado conhecer o mistério do Reino...” (4,2). E os discípulos e as
discípulas tornam-se os irmãos e as irmãs de Jesus: são a sua nova família.
Tudo isto é muito bonito, pelo menos no início.
7) Recebem a missão de anunciar a Boa Notícia e expulsar
os demônios. A mesma missão de Jesus e sua mesma força passam a ser também
dos seus discípulos. Jesus constitui um grupo de Doze. E a atualização das doze
tribos de Israel que formavam o Povo de Deus no Primeiro Testamento. Agora, com
Jesus, os Doze representam o novo Povo
de Deus. Devem caminhar de dois a dois, com espírito comunitário. Assim, vão
pregar e tirar das pessoas todo tipo de mal. Tudo parece maravilhoso, pelo
menos no início.
As causas do entusiasmo
Estes sete pontos marcam esta primeira etapa da caminhada na
estrada de Jesus. Vocês podem conferir no Evangelho. Façam isto com muito
empenho: vai ajudá-los imensamente na missão de catequistas e animadores de
comunidades. Aí vocês vão perceber que o entusiasmo dos discípulos e discípulas
se fundamenta nestes aspectos principais:
A) A pessoa e a prática de Jesus atraem multidões. A
sua prática é libertadora: não se deixa escravizar pelas leis, não se intimida
frente às autoridades, convive com os excluídos da sociedade, vai na casa
deles; cura as pessoas de toda espécie de doenças; expulsa demônios, isto é,
torna as pessoas livres do Sistema Religioso que classifica as pessoas entre
puras e impuras; vem anunciar uma nova era: a do Reino de Deus, onde as
relações entre as pessoas são de igualdade e amor.
B) A Boa Notícia (o Evangelho) se espalha rapidamente
por toda a Galiléia e arredores. E quem acolhe esta Boa Notícia são,
especialmente, aquelas pessoas que não têm voz e nem vez na sociedade:
possessos, doentes, leprosos, mulheres, crianças, paralíticos, pecadores.
C) Este entusiasmo todo se dá também pelo fato de os
discípulos ainda não perceberem quem é realmente Jesus . Eles não estão ainda
conscientes das implicações o seu seguimento. Por isso, já dentro desta
primeira etapa, percebemos que aparecem os desencontros e questionamentos. É a
etapa da crise.
Se ouvires a voz do vento
Chamando sem cessar
Se ouvires a voz do tempo
Mandando esperar.
A decisão é tua
A decisão é tua
São muitos os convidados
Quase ninguém tem tempo
Se ouvires a voz de Deus
Chamando sem cessar
Se ouvires a voz do mundo
Querendo te enganar
O trigo já se perdeu
Cresceu, ninguém colheu
E o mundo passando fome
De paz, de pão e de Deus
DEIXAR-SE QUESTIONAR POR JESUS
Queridos seguidores e seguidoras de Jesus!
Caminhar na estrada de Jesus é uma opção exigente. Nós sabemos disso por
experiência própria. Assim como aconteceu com as primeiras comunidades cristãs,
vocês hoje são continuamente desafiados a enfrentar muitas dificuldades, vencer
muitas barreiras para seguir Jesus e construir Seu Projeto de vida digna para
todas as pessoas.
Quem é e como seguir a Jesus?
No primeiro momento tudo parecia fácil. O entusiasmo tomou
conta de todos nós. Amar os outros e fazer o bem trazia alegria e felicidade.
Jesus, realmente, era uma pessoa muito especial: manifestava muito amor, agia
com uma autoridade diferente da elite religiosa e política da época, possuía um
grande poder, perdoava e acolhia pecadores e marginalizados, realizava muitos
milagres.
A pessoa e a prática de Jesus nos atraíam fortemente. Este
clima gostoso que nos envolvia era apenas a primeira etapa do seguimento de
Jesus. Dentro desta etapa do entusiasmo, já vai aparecendo a segunda etapa, que se caracteriza por alguns
desencontros.
Desencontros, dúvidas e questionamentos
Percebemos que o entusiasmo do primeiro amor não tinha
raízes profundas. Pouco a pouco foram aparecendo dúvidas, incompreensões... No
Evangelho eu coloco vários desencontros entre Jesus e os discípulos. Eis
alguns:
• Querem reter Jesus
Certa vez Jesus, estando a rezar num lugar deserto, Pedro e
seus companheiros o procuram ansiosos e dizem-lhe: “Todos te procuram”. Querem
trazer Jesus de volta para o meio do povo onde sua fama é grande. Jesus não
atende o seu pedido e diz: “Vamos para outros lugares” (Mc 1, 35-39).
E um primeiro desencontro, uma pequena frustração, mas já mostra que Jesus não
é como eles imaginam.
• Não entendem as Parábolas de Jesus
Jesus ensina através de parábolas: histórias que levam os
ouvintes a refletir e descobrir o sentido para a vida. Os discípulos não
conseguem entender. Depois de ouvirem a parábola do semeador eles pedem
explicação. Jesus diz: “Não compreendem esta parábola? Então como é que
vão entender as outras? ... Prestem atenção no que vocês ouvem...” (Mc
4,1-25). Este segundo desencontro que ser seguidor de Jesus é também ter a
capacidade de pensar e discernir o verdadeiro sentido das Palavras que ele diz.
• Deixam-se dominar pelo medo
Ao atravessar o mar da Galiléia enfrentam uma tempestade de
vento. As ondas se jogam para dentro do barco onde estão os discípulos. Jesus
está dormindo. Eles o acordam gritando: “Não te importas
que pereçamos?”Jesus acalma o mar e diz: “Então vocês não têm
fé?”. Sem saber o que responder se perguntam: “Quem é este, que
até o mar e o vento lhe obedecem?” (Mc 4, 35-41). E o terceiro
desencontro. Mais forte e sério que os anteriores. Apesar de conviverem com
Jesus, eles ainda não o conhecem. Têm medo porque não têm fé.
• Não têm sensibilidade
Jesus é convidado para ir à casa de Jairo a fim de curar uma
menina. O povo vai junto. E uma multidão que o comprime de todos os lados. Uma
mulher que há doze anos sofre de uma hemorragia, também está aí no meio,
seguindo a Jesus. Decide aproximar-se dele e toca nas suas roupas, com a fé de
que seria curada. Jesus, com sua atenção e sensibilidade, percebe logo: olhando
ao seu redor, pergunta: “Quem me tocou?” E os discípulos
estranham: “A multidão está te comprimindo e ainda
perguntas quem me tocou?” A mulher caindo a seus pés, conta-lhe toda a
verdade. Jesus a olha com muito carinho e lhe diz: “Minha filha, a tua fé
te salvou; vai em paz...” (Mc 5,21-34).
Este
desencontro revela um jeito de ser sensível e amável: mesmo no meio da
multidão, cada pessoa deve ser respeitada na sua individualidade e atendida em
suas necessidades com muita atenção e amor. Esta é a tarefa do seguidor e da
seguidora de Jesus.
• Querem mandar embora o povo faminto
Jesus e os discípulos procuram um lugar deserto para
descansar. Resolvem atravessar o mar, de barco, para retirar-se da multidão.
Não adianta. Quando desembarcam, já encontram uma multidão de gente à sua
espera. Jesus “fica tomado de compaixão por aquelas pessoas, pois são
como ovelhas sem pastor. E começa a ensinar-lhes muitas coisas”. A
noite vem chegando e os discípulos se preocupam em mandar o povo embora para
que possa alimentar-se. E Jesus surpreendentemente lhes diz: “Dêem vocês
mesmos de comer”. E eles perguntam: “Então o Senhor
quer que a gente vá comprar pão para toda essa multidão?”... (Mc 6,30-44).
Jesus mostra um novo jeito de atender às necessidades do povo. Um novo jeito de
organização sócio-econômica
• Não têm confiança em Jesus
Apesar de tantos sinais da presença e ação libertadora de
Jesus, os discípulos continuam não entendendo nada. Ficam apavorados e começam
a gritar quando Jesus se aproxima da barca, de noite. Pensam que é um fantasma.
O seu coração continua endurecido. (Mc 6, 45-52). A atitude de fechamento e
falta de confiança por parte dos discípulos faz com que eles não consigam
reconhecer o verdadeiro rosto de Jesus.
• Permanecem sem entender
Depois que Jesus explica a respeito do que é puro e do que é
impuro, os discípulos lhe perguntam, em casa, pelo significado de seu
ensinamento. E Ele lhes diz: “Então nem vocês têm inteligência?”
(Mc 7,1-32). Tudo isto está fazendo com que Jesus quase perca a paciência.
Jesus quase rompe com os discípulos
Os desencontros vão crescendo. Jesus age e ensina na
esperança de que os seus discípulos entendam e possam mudar a sua mentalidade e
o seu coração. Mas o resultado é quase nulo. Jesus parece perder a esperança. E
o que dá para perceber em Mc 8,14-21. Jesus fala que é preciso ter cuidado com
o “fermento dos fariseus e dos herodianos”. Os discípulos pensam
que ele esteja falando do fermento do pão. Na verdade, Ele está se referindo à
ideologia, ao modo de pensar e agir dos chefes religiosos e chefes políticos.
Por isso, Jesus lhes dirige uma série de perguntas demonstrando impaciência.
Estes desencontros nós mostramos, principalmente, em textos
que abrangem os capítulos 1,35 a 8,21. São desencontros e questionamentos que
retratam a situação das comunidades no meio das muitas situações difíceis. É a
segunda etapa na caminhada com Jesus. O entusiasmo continua, mas não podemos
ficar na superficialidade. O seguimento de Jesus se realiza através de
contínuas conversões que nos levam à opção radical pelo modo de pensar, sentir,
ver e agir do Filho de Deus.
Eis-me aqui Senhor!
Eis-me aqui Senhor!
Pra fazer Tua Vontade pra viver do Teu Amor
Pra fazer Tua Vontade pra viver do Teu amor
Eis-me aqui Senhor!
O Senhor é o Pastor que me conduz
Por caminhos nunca vistos me enviou
Sou chamado a ser fermento sal e luz
E por isso respondi: aqui estou!
Ele pôs em minha boca uma canção
Me ungiu como profeta e trovador
Da história e da vida do meu povo
E por isso respondi: aqui estou!
Ponho a minha confiança no Senhor
Da esperança sou chamado a ser sinal
Seu ouvido se inclinou ao meu clamor
E por isso respondi: aqui estou!
O CAMINHO PARA VENCER A CEGUEIRA
Pessoalmente, na medida em que fui me tornando participante e animador das
comunidades cristãs primitivas, fui entendendo que caminhar na estrada de Jesus
exige contínua conversão. Neste caminho vamos passando por diversas etapas, de
aprendizado e amadurecimento.
Do entusiasmo inicial passamos para momentos de desencontros
e questionamentos. A idéia que inicialmente tínhamos de Jesus não correspondia
à verdade. Imaginávamos que o Filho de Deus deveria ser forte, poderoso, de
grande autoridade, capaz de vencer as forças político- 4 religiosas daquela
época. Mas, Deus não se manifesta de acordo com o nosso modo de pensar e nem
conforme as nossas expectativas. E como Ele falou através do profeta Isaías: “Os
meus projetos não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os
meus caminhos” (55,8).
A pedagogia de Jesus em nos ajudar a vencer a cegueira, nós
a mostramos na terceira etapa de nossa caminhada na estrada de Jesus. E uma
etapa em que quase não há mais multidão: só Jesus e os poucos discípulos e
discípulas. Estas pessoas, enquanto caminham com Jesus rumo a Jerusalém,
recebem uma longa instrução sobre a Cruz:
I) através de palavras (8, 22 - 10, 52);
II) através de testemunho e ação (11, 1 - 12, 44);
III) através de um discurso (13, 1-37).
Vamos ver de perto a primeira parte desta terceira etapa.
A instrução de Jesus através de palavras <Mc 8,22a 10,52>
Este ensinamento de Jesus, como vimos, tem finalidade de
ajudar- nos a vencer a cegueira. Por isso, inicia com a cura de um cego e
termina com a cura de outro cego:
• Cura de um cego: 8, 22-26.
- 1° anúncio da paixão: 8, 27-38.
- Instruções aos discípulos sobre o Messias-Servo: 9, 1-29.
- 2° anúncio da paixão: 9, 30-37.
- Instrução aos discípulos sobre a conversão: 9,38 a 10, 31.
- 3° anúncio da paixão: 10, 32-45.
• Cura do cego Bartimeu: 10, 46-52.
Cada um dos três anúncios da paixão é acompanhado de gestos
ou palavras de incompreensão por parte dos discípulos.
No primeiro anúncio da paixão, Pedro não quer a cruz e
critica a Jesus. Este reage e o chama de Satanás, pois quer desviá-lo do
caminho de Deus. Na verdade, este primeiro cego que Jesus cura é a imagem de
Pedro e das pessoas que têm dificuldades de entender a verdade a respeito de
Jesus.
No segundo anúncio da paixão, os discípulos têm medo e são
ambiciosos: cada um quer ser o maior.
No terceiro anúncio da paixão eles estão assustados, com
medo e querem promoção. Atitudes que retratam a realidade das comunidades para
as quais o nosso Evangelho de Marcos está sendo escrito.
Cada um dos três anúncios traz uma Palavra de Jesus que
critica e corrige a falta de compreensão e as atitudes de competição e ciúme
dos discípulos, e ensina como deve ser o comportamento deles:
• No primeiro anúncio ele exige: negar-se a si mesmo,
carregar a cruz e segui-lo; perder a vida por causa dele e do Evangelho, e não
ter vergonha dele e da sua palavra.
• No segundo anúncio, exige: fazer-se servo de todos,
e receber os pequenos, como se fossem Ele mesmo.
• No terceiro anúncio, exige: beber o cálice que Ele
vai beber, não imitar os poderosos que exploram, mas sim imitar o Filho do
Homem que veio não para ser servido, mas para servir.
Vocês podem ir acompanhando com a Bíblia na mão. Entre o
primeiro e o segundo anúncios há três complementações sobre o Messias-Servo:
A) A transfiguração (9,2-10). Junto às duas maiores
autoridades do Antigo Testamento (Moisés representa a Lei, e Elias representa
os Profetas), ouve-se a voz: “Este é meu filho amado! Ouvi-o”.
Evoca a figura do Messias-Servo anunciado pelo profeta Isaías (42,1). A glória
passa pelo caminho do sofrimento e da cruz.
B) Instruções sobre a volta do profeta Elias
(9,11-13). Entre os judeus havia a crença de que o profeta Elias devia voltar
antes do Messias (Cf. Ml 3,23-24). Como Jesus podia ser o Messias se Elias
ainda não tinha voltado? Jesus explica: “Elias já veio... “. Ele
se referia a João Batista.
C) Instrução sobre a necessidade da fé e da oração
(9,14-29). Há espécies de demônios que só podem ser expulsos com muita fé e
oração. “Tudo é possível àquele que crê... “. Continuem
acompanhando o esquema e lendo na Bíblia.
Há mais sete complementações entre o segundo e o terceiro
anúncios sobre a mudança que deve ocorrer na vida de relacionamento dos
discípulos e discípulas (9,38-10, 31).
1)
No relacionamento com os que não são da comunidade: o máximo de abertura (9,
38-40).
2)
No relacionamento com os pequenos e excluídos: o máximo de acolhimento (9,
41-42).
3)
No relacionamento consigo mesmo: o máximo de honestidade e integridade (9,
43-50).
4)
No relacionamento mulher-homem: o máximo de igualdade (10, 1-12)...
5)
No relacionamento com as crianças e suas mães: o máximo de ternura (10, 13-16).
6)
No relacionamento com os bens materiais: o máximo de desapego (10, 17-27).
7)
No relacionamento entre os discípulos: o máximo de partilha (10,28-31)...
Estas instruções de Jesus querem mostrar o caminho que
devolve a visão verdadeira a respeito de Jesus, o Messias-Servo, e a respeito
do seu Projeto de Vida para todos, construído em novos relacionamentos.
Quero ouvir teu apelo, Senhor, ao teu chamado de amor e
responder.
Na alegria te quero servir, e anunciar o teu reino de amor.
E pelo mundo eu vou. Cantando o teu amor.
Pois disponível estou para sevir-te, Senhor.
Dia a dia, tua graça me dás; nela se apóia o meu caminhar.
Se estás ao meu lado, Senhor, o que, então, poderei eu temer?
E pelo mundo eu vou. Cantando o teu amor.
Pois disponível estou para sevir-te, Senhor.
MANTER-SE NO CAMINHO DO SERVIÇO
Queridos seguidores e seguidoras de Jesus!
Na conversa de hoje vamos continuar acompanhando a caminhada dos discípulos e
discípulas na estrada de Jesus.
No encontro anterior nós vimos a 1ª parte da terceira etapa (Mc 8,22
10,52): Jesus ensina como vencer a
cegueira que impede de ver a verdade a respeito de sua pessoa e de sua missão.
E por isso que Jesus nesta etapa vai falar abertamente da Cruz. Ele fala que o
Filho do Homem vai ser perseguido, vai sofrer e vai ser morto.
O Filho do Homem
Jesus aplicava esse título à sua própria pessoa. Ele o usava
especialmente nos momentos mais difíceis e decisivos de sua vida. Num dos
próximos encontros explicarei o significado desta expressão. Fundamentalmente,
“Filho do Homem” quer designar a missão de uma pessoa (criatura humana) que se
entrega de corpo e alma à vontade de Deus.
Nós, pouco a pouco, fomos entendendo: Jesus é o “Filho do
Homem” dedicado inteiramente ao serviço da defesa e promoção da vida. Ele é
o Messias-Servo que assume o serviço de libertação dos pobres. Por isso, ele
carrega a cruz que os poderosos lhe impõem, não se dobrando aos seus
interesses. E neste sentido que Ele vai advertindo e convidando os discípulos: “Se
alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”
(Mc 8,34).
Nós entendemos isto muito bem na época em que escrevemos o
Evangelho. Esta Cruz de Jesus estava sendo carregada pelas comunidades cristãs
ao redor do ano 70. Vivíamos uma situação de escuridão. E a cruz se tornou para
nós o maior símbolo da resistência frente a todas as dificuldades. Era como se
Jesus nos dissesse: “Cada um de vocês é ‘criatura humana’ chamada
para o serviço da vida”. E isso que Jesus nos ensina nesta
terceira etapa da caminhada junto com Ele.
A instrução de Jesus através do testemunho e ação <Mc
11, 1 - 12,44>
Esta é a 2ª parte da terceira etapa. A 1ª parte vocês podem
rever no encontro anterior. É claro que o testemunho e ação de Jesus
aconteceram durante todo o seu ministério público: tudo o que Ele fez e disse,
desde a Galiléia. Agora, porém, são momentos decisivos.
Jesus chega a Jerusalém. Seus discípulos e discípulas o
acompanham. Agora eles vão aprender, no concreto,que significa “Seguir
Jesus e carregar sua cruz”. Agora eles vão aprender quais são as
exigências e quais as conseqüências do seguimento de Jesus. Isto nós podemos
ver acompanhando os acontecimentos que aí se desenvolvem. São acontecimentos
que mostram, sobretudo, como Jesus vai rompendo com os interesses dos grupos
dominantes:
1)
Jesus rompe com a visão triunfalista de Messias e se mantém no seu caminho
(11,1-11). Ao entrar em Jerusalém, Jesus o faz à maneira dos pobres: montado
num jumento. Apesar de ser aclamado Rei, Jesus se mantém no caminho do serviço,
O jumento representa, segundo a cultura judaica, o animal portador da paz. A
paz que somente os pobres trazem, pois são pessoas de coração simples e
espírito desarmado. Diferente do cavalo, animal usado pelos soldados, símbolo
do poder e da violência.
2)
Jesus rompe com o Templo (11,12-26). O Templo, que deveria ser a “casa de
oração” e o abrigo dos pobres, tornou-se o centro de exploração e exclusão. E
aí no Templo que se organiza o sistema do puro e do impuro que exclui e estraga
a vida da maioria das pessoas. E por isso que Jesus realiza toda a sua prática
libertadora fora do Templo: nas casas, nas sinagogas, na praia, nas praças, nos
campos. O lugar sagrado para Jesus não é mais aquele lugar oficial dos
religiosos da época. Onde está a pessoa humana, aí é lugar sagrado e aí deve se
tornar espaço de muita vida. Isto provoca uma revolta muito grande da parte dos
poderosos. Eles decidem matar a Jesus
3)
Jesus rompe com os sumos sacerdotes, escribas e anciãos (11,27-12,12).
Estes três grupos, que representam as autoridades máximas do sistema do Templo,
querem saber com que autoridade Jesus realiza estas coisas. Jesus mostra que
não precisa da licença deles para agir. Ele não está subordinado aos poderes
deste mundo. E eles decidem matá-lo.
4)
Jesus rompe com os fariseus e os herodianos (12,14-17). Contra estes dois
grupos, Jesus já havia alertado os seus discípulos quando ainda estavam na
Galiléia. Ele alertou: “Cuidado! Guardai-vos do fermento dos fariseus e
do fermento de Herodes” (8,15). O fermento é a ideologia, o modo de
pensar da elite religiosa e política. Já bem antes haviam decidido matar a
Jesus (3,6). Agora estes dois grupos querem colocar Jesus numa armadilha: querem
saber se é a favor ou contra o pagamento de impostos... Qualquer resposta
colocaria Jesus contra um ou outro grupo. Jesus não se deixa manipular por
atitudes interesseiras.
5)
Jesus rompe com os saduceus (12,18-27). Este grupo é formado por latifundiários
e grandes comerciantes. Discutem com Jesus a respeito da ressurreição, pois não
acreditavam nela. E Jesus é claro: “Vocês estão totalmente errados...”
6)
Jesus rompe com os escribas (12,28-40). Eles eram os “doutores da lei”, os
responsáveis pela doutrina oficial. Já tinham espalhado a calúnia de que Jesus
era um possesso do demônio (3, 22). Jesus questiona o ensinamento deles sobre o
Messias e condena o comportamento ganancioso de alguns deles.
7)
Jesus rompe com os critérios contrários à vontade de Deus
(12, 41-44).
Mostrando o gesto da pobre viúva ofertando tudo o que possuía, Jesus revela
onde e como se manifesta a vontade de Deus. Os grupos religiosos do Templo
faziam questão de demonstrar que davam muita esmola e, assim, consideravam-se
praticantes da vontade de Deus. Aquela mulher soube partilhar até do que era
necessário para o seu sustento, e não tinha interesse de buscar prestígio. É
nos pobres e pela partilha que as pessoas seguidoras de Jesus devem praticar a
vontade de Deus.
A instrução através de um discurso <13,1-37>
Esta é a terceira parte da terceira etapa na estrada de
Jesus. Após romper com os grupos do poder dominante e com a ideologia do
império e da religião oficial, Jesus sai da cidade. Vai ao Monte das Oliveiras.
Lá do alto, sentado (posição de quem ensina), olha para o templo. Com ele estão
apenas quatro discípulos: Pedro, Tiago, João e André. Os mesmos quatro
pescadores, chamados por primeiro a seguir Jesus (1,1 6-20). Eles tinham feito
uma pergunta a respeito da destruição do templo e o fim do mundo.
Todo este discurso do capítulo 13 é uma forma de relatar o
que está acontecendo em Jerusalém pelo ano 70, época em que estamos escrevendo
o Evangelho: a invasão do exército romano e a destruição da cidade e do templo.
Foi um acontecimento que nos marcou e nos entristeceu a todos. Jesus chama a
atenção a respeito do sentido dos fatos e nos previne sobre a necessidade de
vigilância.
A vigilância para nós, cristãos e cristãs, consiste na
vivência do amor que se traduz em serviço. Nosso Mestre e Senhor se fez
Servo. Servos e servas uns dos outros
devemos ser. Deus nos conceda esta graça!
Pelo batismo recebi uma missão/ Vou trabalhar pelo reino do
Senhor/ Vou anunciar o Evangelho para os povos/ Vou ser, profeta, sacerdote,
rei, pastor./ Vou anunciar a Boa nova de Jesus/ Como profeta recebi esta
missão/ Onde eu for serei fermento , sal e luz/ Levando a todos a mensagem de
cristão.
O Evangelho não pode ficar parado/ Vou anunciá-lo, esta é a minha obrigação/ A
messe é grande e precisa de operários/ Vou cooperar na evangelização/ Onde
houver trevas eu levarei a luz/ Também direi a todos que Deus é Pai/ Anunciando
a mensagem de Jesus.
Quem pergunta porque Jesus veio ao mundo/ Eu vou dizer: Foi pra salvar a
humanidade/ Pra libertar o homem da escravidão/ E dar a ele uma nova
oportunidade/ A sua vida e qual a finalidade:/ Jesus, profeta, sacerdote, rei,
pastor/ Veio ensinar-nos o caminho da verdade.
Mesmo sofrendo calúnia e perseguição/ Vou procurar viver em comunidade/ Onde
houver ódio, vingança e injustiça/ Quero levar o amor e a caridade/ Sou
missionário e por isso vou lutar/ Pra levar meus irmãos à eternidade/ Vamos
louvar e bendizer o nosso Deus/ Vivendo juntos a nossa fraternidade.
COM JESUS ATÉ O FIM
Queridos seguidores e seguidoras de Jesus!
No encontro de hoje vamos conversar a respeito da quarta e última etapa da
caminhada na estrada de Jesus. Já sabemos que estas etapas ou passos são uma
maneira de demonstrar como podemos crescer no seguimento de Jesus.
Ao escrever o Evangelho de Jesus Cristo queríamos ajudar, de todo o coração,
cada uma das pessoas que faziam parte das comunidades cristãs, a entender quem
é Jesus e como segui-lo com sinceridade e amor. Queríamos ajudar cada uma
destas pessoas a perseverar no Projeto de Jesus no meio das dificuldades,
perseguições e até mortes. Vocês nem imaginam a minha alegria em saber que o
Evangelho que escrevemos serviu de base para os Evangelhos de Mateus e Lucas.
Eles escreveram com o mesmo objetivo: animar as coma dais cristãs.
Etapas
As quatro etapas presentes no Evangelho de Marcos, revelam o
caminho que nós, normalmente, fazemos quando nos decidimos a viver conforme o
Filho de Deus nos ensinou com palavras e obras.
A primeira etapa se caracteriza pelo
entusiasmo inicial: no começo tudo parece fácil.
A
segunda etapa já revela desencontros e crises: o Messias-Salvador não é
exatamente do jeito que a gente pensa ou gostaria que fosse...
Na
terceira etapa Jesus começa a corrigir nossas cegueiras, convidando-nos a
segui-lo na fidelidade ao Projeto do Pai através do serviço mútuo.
Para isso é necessário renunciar ao egoísmo e à ideologia
dos poderes políticos e religiosos. E por isso que Ele apresenta a cruz como
caminho para o seu seguimento. Por ela devemos passar se decidirmos assumir,
com todas as conseqüências, a Proposta do Reino de Deus. Assim, Ele está
preparando a etapa seguinte.
Quarta e última etapa: um novo começo <Mc 14, 1 - 16, 8 >
Esta etapa conta como aconteceu a perseguição, a prisão e a
paixão, bem como a Morte e a Ressurreição de Jesus. Enquanto nas duas primeiras
etapas Jesus age longe da capital, no meio dos excluídos da Galiléia, na
terceira etapa Ele começa a subir rumo a Jerusalém.
Jesus entra na cidade como Messias pobre (montado num
jumento); entra no templo e expulsa os vendedores; vai rompendo com os diversos
grupos de poderosos que decidem matá-lo.
Nesta quarta etapa podemos perceber alguns pontos
importantes, que ajudam os seguidores e seguidoras a entender como permanecer
firmes no caminho de Jesus:
1)
Por que os poderosos não suportam a proposta dos pequenos? (14, 1-2)
Os sacerdotes, anciãos, escribas, fariseus, herodianos,
saduceus e o governo de Roma detêm o poder na capital da Palestina através dos
Sistemas do Templo e do Império. Eles não vão permitir que Jesus, um
carpinteiro e agricultor da Galiléia, venha a se opor à vontade deles e
provocar um movimento contrário à dominação e exploração. Por isso, Jesus está
marcado para morrer.
2)
O amor tem limites? (14, 3-9)
Em Betânia, uma discípula unge Jesus com perfume caríssimo.
Naquele tempo, quem morresse numa cruz não costumava ter enterro nem ser
embalsamado. Nós já vimos que uma pessoa que morre assim é “maldita de Deus”.
Aquela mulher se antecipa, unge o corpo de Jesus, demonstrando todo o seu amor.
Foi criticada por discípulos homens, apegados ao valor
material do perfume. Seu gesto, porém, foi profundamente entendido e valorizado
por Jesus. Esta discípula anônima vai tornar-se modelo para todos, em todo o
mundo. Foi o gesto de alguém que entendeu quem é Jesus e quer segui-lo
assumindo todas as conseqüências.
3)
Quem é o verdadeiro discípulo? (14,10-31).
Jesus anuncia que todos irão abandoná-lo. Judas vai traí-lo
e Pedro vai negá-lo. Apesar de tudo, Jesus faz questão de celebrar com eles a
Ceia Pascal: gesto de partilha e doação do seu próprio corpo e do seu sangue.
O amor de Jesus é total e gratuito: supera a traição, a
negação e a fuga dos amigos... Assim
deve ser o amor Jus discípulos e discípulas.
4)
A falta de solidariedade: por que vocês estão dormindo? (14,32-52)
No Horto das Oliveiras, Jesus entra em agonia e pede a
Pedro, Tiago e João para rezarem com ele. Necessita do apoio dos amigos. Mas
eles dormem. Não foram capazes de perceber a dor de Jesus e nem de ficar com
Ele nesta hora.
É num momento assim que os amigos verdadeiros se revelam...
Judas, com um beijo, entrega Jesus. O beijo, gesto de amizade e de amor,
torna-se o sinal da traição e da morte.
5)
O processo da condenação: quem é mesmo Jesus? (14, 53 - 15, 20)
Jesus é levado perante o Supremo Tribunal, também chamado de
Sinédrio. O carpinteiro e agricultor que só fez o bem em sua vida vai ser
acusado por falsas testemunhas e vai ser condenado. Jesus se cala. Cumpre-se
assim o que o profeta Isaías disse a respeito do Messias-Servo: preso, julgado
e condenado como uma ovelha sem abrir a boca (Is 53,6-8). Neste processo
aparecem várias visões de Messias: alguns o vêem como guerrilheiro anti-romano
e querem trocá-lo por outro preso, chamado Barrabás; outros o ridicularizam
como profeta, outros como rei.
Até aqui Jesus sempre proibira que dissessem quem Ele era.
Agora, no momento da condenação, Ele mesmo declara ser o Messias, o Filho de
Deus.
Pedro é incapaz de assumir Jesus como o Messias-Servo que
entrega sua vida pela vida dos outros. Por isso nega a Jesus. Mas Pedro também
é capaz de arrependimento e chora amargamente.
6)
Quem fica com Jesus até o fim? (15, 21-39)
Jesus é levado para ser crucificado. Um agricultor, pai de
família, de nome Simão de Cirene, cujos filhos se chamavam Alexandre e Rufo, é
requisitado pelos soldadas para ajudar Jesus
a carregar a cruz. Este homem é o discípulo ideal que caminha na estrada
de Jesus. Jesus é crucificado ao lado de dois ladrões, como um criminoso. O
crime indicado é que Ele se declara “Rei dos Judeus”... Jesus
morre gritando, abandonado.
Ao vê-lo expiar, o
centurião romano faz a profissão de fé: “Verdadeiramente, este homem era
Filho de Deus”! Um pagão reconhece o que os discípulos foram
incapazes dever.
O véu do templo que separava o lugar santíssimo se rasga de
cima até em baixo. Com a morte de Jesus nenhum Sistema Religioso pode reter a
Deus. Agora, Ele está onde há partilha, serviço, diálogo, amor, fraternidade,
solidariedade.
7)
Onde está Jesus? (15,40 - 16, 8)
Um grupo de mulheres o acompanhou até a cruz. Entre elas
Maria Madalena, Salomé e Maria mãe de Tiago, o Menor, e de José. “Elas o
seguiam, o serviam enquanto esteve na Galiléia. E ainda muitas
outras que subiram com Ele para Jerusalém”.
Elas vão até o sepulcro para ungir Jesus que foi enterrado
no túmulo emprestado por José de Arimatéia, um membro do Sinédrio que esperava
o Reino de Deus. Só assim Jesus teve um lugar para ser enterrado.
De repente aparece Jesus
Pouco a pouco se acende uma luz
É preciso pescar diferente
Que o povo já sente que o tempo chegou
E partiram sem mesmo pensar
Nos perigos de profetizar
Há um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia...
UMA SOCIEDADE NOVA HOJE
Queridos seguidores e seguidoras de Jesus!
Estes nossos encontros estão mostrando que o Evangelho que escrevemos em
comunidade é o caminho de todos aqueles que optam pelo seguimento de Jesus.
Da Galiléia a Jerusalém, em companhia do Mestre e Amigo, fomos aprendendo a
amá-lo e a servi-lo de todo o coração. Com Ele superamos nossos egoísmos e
cegueiras. Com Ele vamos nos tornando agentes de transformação do mundo. Para
isto, Jesus se colocou na estrada do amor que é fiel até o fim.
Não fiquem assustadas
Os poderosos lhe impuseram a cruz e a morte. Isto foi um
choque enorme na vida de todos os que o seguiam. Ele passou fazendo o bem e,
agora, o crucificaram. Parecia o fim de tudo. Perdidos e sem saber o que fazer,
todos fugiram, menos um grupo de mulheres. Situações bem parecidas estavam
acontecendo em nossas comunidades cristãs.
A perseguição fazia
com que muitos cristãos se sentissem totalmente desorientados e perdidos.
Muitos fugiram e abandonaram a estrada de Jesus. Outros foram mortos por causa
da fidelidade à fé e à prática de Jesus. Parecia que o mal e a morte tivessem a
última palavra. No entanto, aquele grupo de mulheres que acompanharam Jesus
desde a Galiléia, foi ao sepulcro logo que passou o sábado (Mc 16,1-8). Elas
compraram perfumes para ungir Jesus. A unção era um sinal de respeito, amizade
e profundo amor. Lá estão elas: Maria Madalena, Salomé e Maria, Mãe de Tiago, o
Menor, e de José. Lá estão elas a caminho do local onde enterraram Jesus.
Quanta tristeza e saudade! “Quem vai tirar para nós a pedra da entrada do
sepulcro?” E era uma pedra muito grande.
O sol estava nascendo. A esperança se refazendo. De fato,
quando olharam na direção do sepulcro, a pedra já tinha sido tirada. O coração
bate forte. Elas entram imediatamente no túmulo, que era uma espécie de gruta
escavada na rocha. Entram e ficam surpresas e assustadas. Lá estava um jovem,
sentado no lado direito, vestido de branco.
Ele lhes diz: “Não fiquem assustadas. Vocês estão procurando
Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou!... Ele está na Galiléia
na frente de vocês. Lá vocês o verão, como Ele mesmo disse”. Elas saíram
correndo, ficaram com medo e não disseram nada a ninguém.
Nós, ao escrevermos este Evangelho, fizemos questão de
concluir assim como está no capítulo 16,8. Mais tarde é que foi acrescentado um
apêndice, que fala das aparições de Jesus ressuscitado.
Não disseram nada a ninguém porque tinham medo
Porque concluímos o Evangelho deste modo? A resposta é bem
simples. Nós das comunidades cristãs, diante da situação em que vivíamos,
tínhamos dois caminhos a seguir: o caminho do silêncio, do fechamento e do
medo, ou o caminho da fé e da prática de Jesus.
A resposta tinha que ser livre, pessoal e profunda. Quem decidisse seguir a Jesus
devia “voltar para a Galiléia”, isto é, ter a mesma prática que Jesus tese no
meio dos excluídos. Todos nós, portanto, estamos desafiados a recomeçar. Jesus
ressuscitado sempre vai ser reconhecido pelas mulheres e homens que vivem a sua
Proposta de libertação junto com todas as pessoas que sofrem.
E fácil entender, depois de tudo isto, as palavras de Jesus
no capítulo 8,34: “Se alguém quer me seguir renuncie a si mesmo, tome a
sua cruz e me siga”.
Sim, nós entendemos que o seguimento de Jesus implica num
jeito de pensar e agir diferente daquele dos líderes religiosos e políticos.
Para
Vocês: catequista, animadores de comunidades, missionários e
todas as psoas que trabalham pelo Reino de Deus, gostaria de colocar a síntese
do que significa tomar a cruz e seguir a Jesus
Uma nova economia
Tanto na sociedade das primeiras comunidades cristãs como na
sociedade em que vocês vivem hoje, o sistema econômico é organizado de tal
maneira que concentra os bens nas mãos de poucos, proporcionando o acúmulo e a
ganância de alguns, destruindo a natureza e estragando as condições necessárias
para uma vida saudável. Conseqüentemente, a maioria dos filhos e filhas de Deus
passa fome e miséria.
Quando no Evangelho recordamos as multiplicações dos pães
(Mc 6,30-44 e 8,1-10), queremos claramente indicar que, como Jesus é pela
organização e partilha, também nós devemos garantir pão em abundância para
todos.
Lembramos também que, ao narrar o episódio do jovem rico
(10,17-27), queremos afirmar que toda concentração de bens constitui- se num
pecado porque tira o que é de todos, empobrece a maioria e, por isso, impede
que o Reino de Deus aconteça.
Seguir a Jesus no aspecto econômico é, portanto: libertar-se
do ter como atitude possessiva, e optar pela partilha dos bens segundo a
necessidade cada pessoa e de cada família. Graças a Deus, há pessoas e pequenas comunidades que
já vivem esta proposta econômica. É o Reino de Deus que está no meio de nós!
Uma nova política
Na época de Jesus e das primeiras comunidades cristãs, a
política do Templo de Jerusalém e do Império Romano concentrava todo o poder
nas mãos do Sinédrio, da elite política e do imperador. Mandavam e desmandavam
como queriam.
Vocês também vivem num mundo onde o poder está centrado nas
mãos de um pequeno grupo. As leis, em sua maior parte, estão a serviço dos seus
interesses. Os interesses e as necessidades do povo, pouco importam para este
grupo.
Jesus percebe e alerta aos discípulos a respeito da atitude
dos que detêm o poder: “Eles gostam de andar com roupas compridas, de ser
cumprimentados nas praças públicas, gostam dos primeiros lugares nas sinagogas
e dos lugares de honra nos banquetes. No entanto, exploram as viúvas e roubam
suas casas e, para disfarçar, fazem grandes orações...” (12, 38-40).
Mostramos claramente qual é a atitude de Jesus com relação
aos que dominam. Ele diz que entre nós não poderá ser assim (10, 35-45). O
maior é aquele que se coloca a serviço da justiça e da vida.
Seguir a Jesus no aspecto político tanto, libertar-se do
poder como atitude de dominação e optar pelo serviço da defesa e promoção dos
direitos e da vida de toda pessoa
humana. Graças Deus, há muitas pessoas e
pequenas comunidades que já vivem esta proposta política. O Reino de
Deus está no meio de nós!
Uma nova ideologia
No tempo de Jesus e das primeiras comunidades cristãs havia
uma maneira de pensar que afetava negativamente a vida do povo. Dizia-se que o Deus
verdadeiro era o deus dos poderosos, o deus do Templo de Jerusalém, o deus do
Sistema legalista do puro e do impuro.
Divulgava-se que quem fosse pobre, doente, mulher,
agricultor, pastor, estrangeiro... pertencia à categoria dos impuros e
pecadores. Dizia-se que o imperador era senhor e deus e, portanto, qualquer
coisa que ele dissesse ou fizesse devia ser obedecida sem questionar.
No tempo em que vocês estão vivendo agora, no terceiro
milênio, há também um modo de pensar que prejudica grandemente a vida do povo.
O chamado neoliberalismo está sendo um modo de pensar que leva cada um a
voltar-se para os seus próprios interesses, a viver de forma individualista.
Em nome da liberdade, cada um vive (ou morre?) no seu
egoísmo e perde a sensibilidade pelo sofrimento dos outros. Como no tempo de
Jesus, verdadeiras multidões estão à procura de vida digna. Nos próprios
sistemas religiosos de hoje há marginalização e discriminação.
A Boa Notícia de Jesus é a grande Proposta que inclui e
integra a todos. Por isso, Ele chama a atenção para ter cuidado com o modo de
pensar (fermento) da elite religiosa e política, representada pelos fariseus e
pelos herodianos (8,14-15).
Seguir a Jesus no aspecto ideológico e religioso é,
portanto: libertar-se das idéias e interesses dos poderosos/dominantes e optar pelas
idéias/interesses das pessoas excluídas. Gaças a Deus, há muitas pessoas e
comunidades que vivem esta proposta ideológico-religiosa. E o Reino de Deus que está no meio de nós!
Uma nova sociedade
No tempo de Jesus e das primeiras comunidades cristãs a
estrutura social era organizada a partir da raça, gênero e classes. Isto é: era
uma sociedade racista, machista e escravagista. No Evangelho, percebemos Jesus
posicionando-se claramente contra todo tipo de discriminação e desigualdade
social.
O Reino de Deus é a sociedade alicerçada na justiça, no
diálogo, na fraternidade. A prática de
Jesus é de superação das divisões de gênero, de raça e de classes.
Que o Espírito de Jesus nos ilumine e nos transforme em
agentes ativos e criativos de uma sociedade justa e fraterna!
E seu nome era Jesus de Nazaré,
Sua fama se espalhou e todos vinham ver
O fenômeno do jovem pregador
Que tinha tanto amor...
QUEM É JESUS?
Queridos seguidores e seguidoras de Jesus!
Esta é a nossa última conversa a respeito do Evangelho que escrevemos em
mutirão, ao redor do ano 70, na Síria (ou em Roma). Procuramos partilhar com
vocês a nossa experiência de seguimento de Jesus e revelar esta experiência de:
entusiasmo, dúvidas, desencontros, incompreensões, crises, cegueiras, cruz,
desânimo, perseguições e morte. As primeiras comunidades cristãs vivenciaram
tudo isso. Jesus, nosso único Mestre e Senhor, nos mostrou o caminho: Ele foi
fiel ao Projeto do Pai até o fim. Nós também podemos, com sua graça.
Por que escrevemos o Evangelho?
Para dar força e coragem e para sermos fiéis à Proposta de
Jesus até o fim. Muitos desanimaram e desistiram, mas centenas entregaram sua
vida, seguindo a Jesus. Pessoalmente acompanhei a vida de alguns destes
mártires. O testemunho deles muito me fortaleceu e me encorajou a aprofundar a
verdade a respeito de Jesus.
Opiniões diversas
Nós já vimos que Jesus andava por todos os lugares. Uma
grande multidão o acompanhava, especialmente os sofredores e excluídos. A fama
dele se espalhava e atraía a atenção de muita gente. As opiniões sobre Ele eram
as mais diversas:
• O povo dizia:
“Eis um ensinamento novo. Ele fala com autoridade... Até os espíritos
impuros lhe obedecem... “Nunca vimos coisa semelhante”. E procuravam
aproximar-se de Jesus, tocar nele e acompanhá-lo.
• Os doutores da lei diziam: “Ele é um
blasfemador... Quem pode perdoar pecados a não ser Deus?... Ele come com
os pecadores... É pele chefe dos demônios que ele expulsa os demônios...”
E ficavam sempre espionando para ver se Jesus dizia ou fazia alguma coisa que
não estava de acordo com a lei deles.
• Os parentes de Jesus diziam: “Ele está louco”...
Os seus conterrâneos diziam, cheios de inveja: “Não é ele o carpinteiro,
filho de Maria e irmão de Tiago, Judas e Simão? Que sabedoria é
esta que ele tem?... Até Herodes, preocupado, dizia: “E João que eu
mandei decapitar. Ele ressuscitou”... Outros diziam: “E o profeta
Elias que ressuscitou...”
Jesus: o Filho do Homem
Baseado nos profetas Ezequiel e Daniel, esta expressão
significa que Jesus gostava de se assumir como uma simples criatura humana,
totalmente dependente de Deus. É também o símbolo de quem se coloca a serviço
da vida contra os poderes da morte. Por isso, na fragilidade humana, vai
sofrer, mas com a certeza da vitória que vem de Deus.
Também para nós, das comunidades cristãs, isso se tornou um
programa vital: assumir a missão de defesa da vida contra os poderes da morte,
mesmo enfrentando perseguição. Também nós tínhamos a certeza da vitória.
Jesus: Messias e Servo
Foi Pedro quem revelou a identidade verdadeira de Jesus: “Tu
és o Messias”, disse ele entusiasmado, mas ele não sabia o que estava
dizendo. De fato, Jesus disse que era Deus que falava pela sua boca.
Mas, Pedro e os discípulos não esperavam que o Messias fosse
seguir o caminho da cruz e da morte, como o servo sofredor anunciado pelo
profeta Isaías. E Jesus, não usou do poder que possuía, defendendo-se do jeito
que eles queriam. Esta atitude de Jesus nos marcou, e entendemos que, para ser
seus discípulos e discípulas, significa fazer-se servos e servas uns dos
outros.
Jesus: pessoa de conflitos
Do começo ao fim de sua vida, Jesus viveu em meio a
conflitos.
• Com os espíritos impuros, que queriam dominar e
oprimir as pessoas; entrou em conflito com os interesses dos fariseus, doutores
da lei, saduceus e herodianos.
• Com o sistema judaico, com suas inúmeras leis que
massacravam e excluíam as mulheres, as crianças, os pobres e os estrangeiros.
• Com o sistema explorador do Templo; com seus
familiares e conterrâneos; com o império romano; com seus próprios discípulos.
• E até consigo mesmo, no momento mais decisivo de
sua vida, antes de sua morte, no monte das Oliveiras.
Jesus: livre e libertador
Jesus cultivou e viveu uma vida profundamente livre. Nenhuma
lei, nenhum poderoso, nenhuma estrutura conseguiu dominar a Jesus: nem a
família, nem o Sistema religioso do Templo, nem o Império. Ele se posicionava
de forma livre diante de todos, para ser servo dos pequenos.
O segredo de sua liberdade foi a fidelidade à vontade do Pai
até o fim. Foi por isso que Jesus cultivou a intimidade com o Pai. Era Deus
quem sustentava o seu ser livre. Somente quem é livre liberta os outros, Isso
Jesus o demonstrou com seu testemunho de vida.
A liberdade de Jesus deu-nos força, serenidade, perseverança
e capacidade de vencer o medo frente às dificuldades que nos sobrevinham na
caminhada.
Jesus: o Filho de Deus
Jesus é o filho de Deus: é a confissão de fé mais profunda
que nós fazemos. Aquela pessoa que recusou o poder e os aplausos;
aquela pessoa que se auto-denominou de “Filho do Homem”; aquele ser livre e
libertador... é o Filho de Deus. Esta certeza inabalável de que Jesus de
Nazaré, o crucificado, é o Filho de Deus, o Salvador, foi crescendo em nós. Foi
assassinado pelos poderosos, mas a morte não o prendeu em suas garras. A morte
não tem mais a última palavra.
Aquela notícia dada a Maria Madalena, a Maria mãe de Tiago e
a Salomé, transformou nossas vidas. Jesus de Nazaré ressuscitou! Para nós, a
certeza da Ressurreição de Jesus é a garantia da vitória da vida para sempre!
Queridos seguidores e seguidoras de Jesus!
Queremos deixar a cada um de vocês o nosso abraço fraterno.
Não importa a distância de tempo que nos separa. Estamos bem unidos na estrada
de Jesus e na construção do seu Reino.
SUGESTÕES DE LEITURA PARA APROFUNDAR O EVANGELHO DE SÃO
MARCOS:
1. CNBB Caminhamos na Estrada de Jesus, Ed. Paulinas, São
Paulo.
2. MOSCONI, Luis - Evangelho de Jesus Cristo Segundo Marcos,
Ed. Loyola, São Paulo.
3. WENZEL, João Inácio - Pedagogia de Jesus Segundo Marcos,
Ed. Loyola, São Paulo.
4. DE COPPI, Pe. Paulo e LUIZ HEERDT, Mauri -Jesus nos
Conquistou, Ed. Mundo e Missão, São Paulo. - www.missaojovem.com.br.
SUGESTÕES DE OUTRAS OBRAS
1. BALANCIN, E. Martins - Como ler o Evangelho de Marcos,
Série «Como ler a Bíblia”, Ed. Paulinas, São Paulo.
2. GALLARDO, Carlos B. -Jesus, Homem em Conflito, Ed.
Paulinas, São Paulo.
3. Galiléia Ano 30 - Para ler o Evangelho de Marcos, Ed.
Paulinas, São Paulo.
4. DELORME, J. - Leitura do Evangelho de Marcos, Co!.
“Cadernos Bíblicos”, Ed. Paulinas, São Paulo.
5. GAMELEIRA SOARES, Sebastião A. e CORREIA JÚNIOR, João L. - Evangelho de Marcos,
Col. Comentário Bíblico, Ed. Vozes, Petrópolis.
6. MATEOS, Juan e CAMACHO, Fernando - Marcos, texto e
comentário, Co!. Comentários Bíblicos, Ed. Paulus, São Paulo.
Ide!”