domingo, 25 de março de 2012

Os dez mandamentos



“Que devo fazer de bom para ter a vida eterna?”
“Se queres entrar para a vida, guarda os  mandamentos” (Mt 19,16-17). 
Por sua prática e por sua pregação, Jesus atestou a perenidade do Decálogo.
O dom do Decálogo é concedido no contexto da Aliança celebrada por Deus com seu povo.
Os mandamentos de Deus recebem seu verdadeiro significado nessa Aliança e por meio dela.
Fiel à Escritura, e de acordo com o exemplo de Jesus, a Tradição da Igreja reconheceu ao Decálogo uma importância e um significado primordiais.
Decálogo forma uma unidade orgânica, em que cada “palavra” ou “mandamento” remete a todo o conjunto. Transgredir um mandamento é infringir toda a Lei.
O Decálogo contém uma expressão privilegiada da lei natural. Conhecemo-lo pela revelação divina e pela razão humana.
Os Dez Mandamentos enunciam, em seu conteúdo fundamental, obrigações graves. Todavia, a obediência a esses preceitos implica também obrigações cuja matéria é, em si mesma, leve. O que Deus manda, torna-o possível por sua graça.
“Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com 2133 toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6,5).
O primeiro mandamento convida o homem a crer em Deus, a 2134 esperar nele e a amá-lo acima de tudo.
“Adorarás o Senhor teu Deus” (Mt 4,10). Adorar a Deus, orar a Ele, oferecer-lhe o culto que lhe é devido, cumprir as promessas e os votos que foram feitos a Ele são os atos da virtude de religião que nascem da obediência ao primeiro mandamento. O dever de prestar um culto autêntico a Deus incumbe ao homem, tanto individualmente como em sociedade.
O homem deve “poder professar livremente a religião, tanto em particular como em público”. A superstição é um desvio do culto que rendemos ao verdadeiro Deus. Ela se mostra particularmente na idolatria, assim como nas diferentes formas de adivinhação e de magia.
A ação de tentar a Deus, em palavras ou em atos, o sacrilégio, a simonia são pecados de irreligião proibidos pelo primeiro mandamento.
Enquanto rejeita ou recusa a existência de Deus, o ateísmo é um pecado contra o primeiro mandamento.

O culto às imagens sagradas está fundamentado no mistério da encarnação do Verbo de Deus. Não contraria o primeiro mandamento.
“Senhor, nosso Deus, quão poderoso é teu nome em toda a terra” (SI 8,11).
 O segundo mandamento prescreve respeitar o nome do Senhor. O nome do Senhor é santo.
 O segundo mandamento proíbe todo uso inconveniente do nome de Deus. A blasfêmia consiste em usar o nome de Deus, de Jesus Cristo, da Virgem Maria e dos santos de maneira injuriosa.
O juramento falso invoca Deus como testemunha de uma mentira. O perjúrio é uma falta grave contra o Senhor, sempre fiel a suas promessas.
“Não jurar nem pelo Criador, nem pela criatura, se não for com verdade, necessidade e reverência.
No Batismo, o cristão recebe seu nome na Igreja. Os pais, os padrinhos e o pároco cuidarão para que lhe seja dado um nome cristão. O patrocínio de um santo oferece um modelo de caridade e um intercessor seguro.
O cristão começa suas orações e suas ações pelo sinal-da-cruz, “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”.
Deus chama cada um por seu nome.
“Guardarás o dia de sábado para santificá-lo” (Dt 5,12). “No sétimo dia se fará repouso absoluto em honra do Senhor” (Ex 31,15).
O sábado, que representava o término da primeira criação, é substituído pelo domingo que lembra a criação nova inaugurada com a Ressurreição de Cristo.
A Igreja celebra o dia da Ressurreição de Cristo no oitavo dia, que é corretamente chamado dia do Senhor, ou domingo.
O domingo (...) deve ser guardado em toda a Igreja como o dia de festa de preceito por excelência.”
“No domingo e em outros dias de festa de preceito, os fiéis têm a obrigação de participar da missa.”
“No domingo e nos outros dias de festa de preceito, os fiéis se absterão das atividades e negócios que impeçam o culto a ser prestado a Deus, a alegria própria do dia do Senhor e o devido descanso da mente e do corpo.”
A instituição do domingo contribui para que “todos tenham tempo de repouso e de lazer suficiente para lhes permitir cultivar sua vida familiar, cultural, social e religiosa. Todo cristão deve evitar impor sem necessidade aos outros aquilo que os impediria de guardar o dia do Senhor.
“Honra teu pai e tua mãe” (Dt 5,16; Mc 7,8).
De acordo com o quarto mandamento, Deus quis que, depois dele, honrássemos nossos pais e os que Ele, para nosso bem, investiu de autoridade.
A comunidade conjugal está fundada na aliança e no consentimento dos esposos. O casamento e a família estão ordenados para o bem dos cônjuges, a procriação e a educação dos filhos.
“A salvação da pessoa e da sociedade humana está estreitamente ligada ao bem-estar da comunidade conjugal e familiar.”
Os filhos devem a seus pais respeito, gratidão, justa obediência e ajuda. O respeito filial favorece a harmonia de toda a vida familiar.
Os pais são os primeiros responsáveis pela educação de seus filhos na fé, na oração e em todas as virtudes. Têm o dever de prover, na medida do possível, às necessidades físicas e espirituais de seus filhos.
Os pais devem respeitar e favorecer a vocação de seus filhos. Lembrem e ensinem que a primeira vocação do cristão consiste em seguir a Jesus.
A autoridade pública deve respeitar os direitos fundamentais da pessoa humana e as condições de exercício de sua liberdade.
É dever dos cidadãos trabalhar com os poderes civis para a edificação da sociedade num espírito de verdade, de justiça, solidariedade e de liberdade.
O cidadão está obrigado em consciência a não seguir as prescrições das autoridades civis, quando contrárias às exigências da ordem moral. “E preciso obedecer antes a Deus que homens” (At 5,29).
Deus tem em seu poder a alma de todo ser vivo e o espírito de todo homem carnal” (Jó 12,10).
Toda vida humana, desde o momento da concepção até a morte, é sagrada, porque a pessoa humana foi querida por si mesma à imagem e à semelhança do Deus vivo e santo.
O assassinato de um ser humano é gravemente contrário à dignidade da pessoa e à santidade do Criador.
A proibição de matar não ab-roga o direito de tirar a um opressor injusto a possibilidade de prejudicar. A legítima defesa é um dever grave para quem é responsável pela vida alheia ou pelo bem comum.
Desde a concepção, a criança tem o direito à vida. O aborto direto, isto é, o que se quer como um  fim ou como um meio, é uma “prática infame”, gravemente contrária à lei moral. A Igreja condena com pena canônica de excomunhão este delito contra a vida humana.
Visto que deve ser tratado como uma pessoa desde a sua concepção, o embrião deve ser defendido em sua integridade, cuidado e curado como qualquer outro ser humano.
A eutanásia voluntária, sejam quais forem as formas e os motivos, constitui um assassinato. E gravemente contrária à dignidade da pessoa humana e ao respeito do Deus vivo, seu Criador.
O suicídio é gravemente contrário à justiça, à esperança e à caridade. E proibido pela quinto mandamento.
“O amor é a vocação fundamental e originária do ser humano”
Ao criar o ser humano, homem e mulher, Deus dá a dignidade pessoal de uma maneira igual a ambos.
Cada um, homem e mulher, deve chegar a reconhecer e aceitar sua identidade sexual.
Cristo é o modelo da castidade. Todo batizado é chamado a levar uma vida casta, cada um segundo seu estado de vida próprio.
A castidade significa a integração da sexualidade na pessoa. Inclui a aprendizagem do domínio pessoal.
Entre os pecados gravemente contrários à castidade é preciso citar a masturbação, a fornicação, a pornografia e as práticas homossexuais.
A aliança que os esposos contraíram livremente implica um amor fiel. Impõe-lhes a obrigação de guardar seu casamento indissolúvel.
A fecundidade é um bem, um dom, um fim do casamento. Dando a vida, os esposos participam da paternidade de Deus.
A regulação da natalidade representa um dos aspectos da paternidade e da maternidade responsáveis.  A legitimidade das intenções dos esposos não justifica o recurso a meios moral mente inadmissíveis (por exemplo, a esterilização direta ou a contracepção).
O adultério e o divórcio, a poligamia e a união livre são ofensas graves à dignidade do casamento.
“Não roubarás” (Dt 5,19). “Nem os ladrões, nem os avarentos nem os rapinadores herdarão o Reino de Deus” ( 1Cor 6,10).
O sétimo mandamento prescreve a prática da justiça e da caridade na administração dos bens terrenos e dos frutos do trabalho dos homens.
Os bens da criação são destinados a todo o gênero humano. O direito à propriedade privada não abole a destinação universal dos bens.
O sétimo mandamento proíbe o roubo. O roubo é a usurpação de um bem de outrem contra a vontade razoável do proprietário.
Toda forma de apropriação e uso injusto dos bens de outrem é contrária ao sétimo mandamento. A injustiça cometida exige reparação. A justiça comutativa exige a restituição do bem roubado.
A lei moral proíbe os atos que, visando a fins mercantis ou totalitários, conduzem à servidão dos seres humanos, à sua compra, venda e troca como mercadorias.
O domínio concedido pelo Criador sobre os recursos minerais, vegetais e animais do universo não pode ser separado do respeito às obrigações morais, inclusive para com as gerações futuras.
Os animais são confiados à administração do homem, que lhes deve benevolência. Podem servir para a justa satisfação das necessidades do homem.
A Igreja emite um juízo em matéria econômica e social quando os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigem.
Preocupa-se com o bem comum temporal dos homens em razão de sua ordenação ao Sumo Bem, nosso fim último.
O próprio homem é o autor, o centro e o fim de toda a vida econômica e social. O ponto decisivo da questão social é que os bens criados por Deus para todos de fato cheguem a todos, conforme a justiça e com a ajuda da caridade.
O valor primordial do trabalho depende do próprio homem, que é seu autor e destinatário. Por meio de seu trabalho, o homem participa da obra da criação. Unido a Cristo, o trabalho pode ser redentor.
O verdadeiro desenvolvimento abrange o homem inteiro. O que importa é fazer crescer a capacidade de cada pessoa de responder à sua vocação, portanto, ao chamamento de Deu. A esmola dada aos pobres é um testemunho de caridade fraterna; é também uma prática de justiça que agrada a Deus. Na multidão de seres humanos sem pão, sem teto, sem terra, como não reconhecer Lázaro, mendigo faminto da parábola?
Como não ouvir Jesus, que diz: “Foi a mim que o deixastes de fazer” (Mt 25,45)?
“Não levantarás falso testemunho contra teu próximo” (Ex 20,16).
Os discípulos de Cristo “revestiram-se do homem novo, criado segundo Deus na justiça e santidade da verdade” (Ef 4,24).
A verdade ou veracidade é a virtude que consiste em mostrar-se verdadeiro no agir e no falar, fugindo da duplicidade, da simulação e da hipocrisia.
O cristão não deve “se envergonhar de dar testemunho de Nosso Senhor” (2Tm 1,8) em atos e palavras. O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé.
O respeito à reputação e à honra das pessoas proíbe toda atitude ou palavra de maledicência ou calúnia.
A mentira consiste em dizer o que é falso com a intenção de enganar o próximo.
Toda falta cometida contra a verdade exige reparação. A regra de ouro ajuda a discernir, nas situações concretas, se convém ou não revelar a verdade àquele que a pede.
“O sigilo sacramental é inviolável.” Os segredos profissionais devem ser guardados. As confidências prejudiciais a outros não devem ser divulgadas.
A sociedade tem direito a uma informação fundada na verdade, na liberdade e na justiça. E conveniente que se imponham moderação e disciplina no uso dos meios de comunicação social.
As artes, mas sobretudo  a arte sacra, têm em vista, “por natureza, exprimir de alguma forma nas obras humanas a beleza infinita de Deus e procuram aumentar seu louvor e sua glória na medida em que não tiverem outro propósito senão o de contribuir poderosamente para encaminhar os corações humanos a Deus”.
“Todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mt 5,28).  O nono mandamento adverte contra a cobiça ou concupiscência carnal.
A luta contra a cobiça carnal passa pela purificação do coração e pela prática da temperança.
A pureza do coração nos permitirá ver a Deus e nos permite desde já ver todas as coisas segundo Deus.
A purificação do coração exige a oração, a prática da castidade, a pureza da intenção e do olhar.
A pureza do coração exige o pudor, que é paciência, modéstia e discrição. O pudor preserva a intimidade da pessoa.
“Onde está teu tesouro, aí estará teu coração” (Mt 6,21).
O décimo mandamento proíbe a ambição desregrada, nascida paixão imoderada das riquezas e de seu poder.
A inveja é a tristeza sentida diante do bem de Outrem e o desejo imoderado de dele se apropriar. E um vício capital.
O batizado combate a inveja pela benevolência, pela humildade e pelo abandono nas mãos da Providência divina.
Os fiéis de Cristo “crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências” (Gl 5,24); são conduzidos pelo Espírito e seguem os desejos dele.
O desapego das riquezas é necessário para entrar no dos Céus. “Bem-aventurados os pobres de coração.”
Eis o verdadeiro desejo do homem: “Quero ver a Deus”. A sede de Deus é saciada pela água da Vida Eterna.



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