O
Pai-Nosso: A correta articulação
Na oração do
Senhor encontramos, praticamente, a correta relação entre Deus e o homem, o Céu
e a Terra, o religioso e o político, mantendo a unidade do mesmo processo. A
primeira parte diz respeito à causa de Deus: o Pai, a santificação de seu Nome,
seu Reino, sua Vontade santa. A segunda parte concerne à causa do homem o pão
necessário o perdão indispensável, a tentação sempre presente e o mal
continuamente ameaçador.
Ambas as
partes constituem a mesma e única oração de Jesus. Deus não só se interessa
pelo que é seu: o Nome, o Reino, a Vontade divina; Ele se preocupa também pelo
que é do homem: o pão, o perdão, a tentação, o mal. Igualmente o homem, não só
se prende ao que lhe importa: o pão, o perdão, a tentação e o mal; abre-se
também ao que respeita ao Pai: a santificação de seu Nome, a chegada de seu
Reino, a realização de sua Vontade.
Na oração de
Jesus a causa de Deus não é alheia à causa do homem, e a causa do homem não é
estranha à causa de Deus. O impulso com o qual o homem se ergue ao céu e
suplica a Deus se verga também à terra e afeta as urgências terrestres. É o
mesmo movimento dentro de uma profunda unidade. É exatamente esta mútua
implicação que produz a transparência na oração do Senhor.
Aquilo que Deus uniu — a preocupação por Deus e a preocupação pelas
nossas necessidades — ninguém poderá e deverá separar. Não se deverá nunca atraiçoar Deus por causa das precisões
terrestres; mas também jamais será legítimo amaldiçoar as limitações da
existência no mundo por causa da grandeza da realidade de Deus. Uma e outra
constituem matéria de oração, de súplica e louvor. Por isso é que consideramos
o Pai Nosso como a oração da libertação integral.
A realidade
implicada no Pai-Nosso não se apresenta rósea, mas extremamente conflitiva. Aí
se enfrentam o Reino de Deus com o reino de satanás. O Pai está próximo
(nosso), mas também longe (nos céus). Na boca dos homens há blasfêmias e por
isso cumpre santificar o Nome de Deus. No mundo impera toda sorte de maldades
que exasperam a ânsia pela vinda do Reino de Deus que é de justiça, amor e paz.
A vontade de Deus é contrafeita e importa realizá-la em nossas práticas.
Suplicamos o
pão necessário porque muitos, do contrário, não o têm. Pedimos que Deus nos
perdoe todas as rupturas da fraternidade porque senão não conseguimos perdoar a
quem temos ofendido. Suplicamos força nas tentações, pois de outro modo caímos
miseravelmente. Gritamos que nos liberte do mal porque, diversamente, apostatamos
definitivamente. E apesar de toda esta conflitividade, perpassa na oração do
Senhor toda uma aura de confiança alegre e de serena entrega, porque faz de
tudo isto — integralmente — conteúdo de encontro com o Pai.
Se
repararmos bem, o Pai-nosso tem a ver com as grandes questões da existência
pessoal e social de todos os homens em todos os tempos. Nele não se faz
referência à Igreja, nem sequer se fala de Jesus, de sua morte ou de sua
ressurreição. O centro é ocupado por Deus articulado com o outro centro, que é
o homem em suas necessidades. Nisso reside o essencial.
Todo o resto é consequência ou comentário; é
concedido junto com o essencial. “Pedi as coisas grandes e Deus vos dará as
pequenas”: eis uma palavra de Jesus transmitida fora dos evangelhos por
Clemente de Alexandria (14O-211). Ela conserva uma lição preciosa: importa
abrir a mente para além de nosso pequeno horizonte e o coração para além de
nossos limites. Então encontramos o essencial, tão bem traduzido por Jesus na
oração que nos ensinou, o Pai-Nosso.
A ordem das
petições não é arbitrária. Começa-se por Deus e só em seguida se passa ao
homem. E a partir de Deus, de sua ótica, que nos preocupamos com as nossas
necessidades. E no meio de nossas misérias devemos nos preocupar com Deus. A
paixão pelo céu se articula com a paixão pela terra. Toda verdadeira
libertação, na perspectiva cristã, arranca de um profundo encontro com Deus que
nos lança à ação comprometida.
Aí ouvimos
sua voz que nos diz continuamente: Vai! E ao mesmo tempo, todo compromisso
radical com a justiça e o amor dos irmãos nos remete a Deus como a Justiça
verdadeira e o Amor supremo. Aí ouvimos também a sua voz que nos chama: Vem!
Todo processo de libertação que não consegue identificar o Motor último de toda
prática, Deus, não alcança o seu intento e não se faz integral.
Ao
recitarmos diuturnamente a oração do Senhor, ressoam conjuntamente as palavras
daquele tempo e os fatos de nosso tempo. E surpreendentemente nos descobrimos
próximos e contemporâneos de Jesus Cristo.
O Pai-Nosso nos foi transmitido em duas
versões: uma mais longa, a de São Mateus (6,9-13), e outra mais breve, a de São
Lucas (11,2-4). Transcrevemos o texto.
Mateus
Pai nosso
que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha a nós o teu reino, seja
feita a tua vontade assim na terra como no céu.
O pão nosso
de cada dia dá-nos hoje, perdoa-nos nossas ofensas, assim como nós perdoamos
aos nos têm ofendido, e não nos deixes cair em
tentação, mas livra-nos do mal.
Lucas
Pai,
santificado seja o teu nome; venha o teu reino. Dá-nos cada dia o pão
necessário, perdoa-nos os pecados, pois também nós perdoamos a todos os que nos
têm ofendido, e não nos ponhas à prova.
Por que,
pelos anos 75-85, época em que foram redigidos os dois evangelhos, o Pai-Nosso
é transmitido em duas versões? Teria Jesus ensinado, em ocasiões diferentes,
duas versões? Os especialistas nos afirmam que os evangelistas nos transmitiram
aquela forma que encontraram em suas comunidades.
Historicamente, considerado, não se trata,
assim como se encontra, de uma simples oração de Jesus, a qual poderíamos
retraduzir do original grego para a fórmula primitiva aramaica, a língua de
Jesus; trata-se, isto sim, de uma oração de Jesus tradicionada e assimilada de
forma diferente nas várias comunidades cristãs dos primeiros tempos, como se
testemunha também na Didaqué, A fórmula histórica de Jesus nos é inacessível. O
que conhecemos são estas duas versões.
Qual seria a
redação mais original e primitiva? Lucas é mais breve e contém em si tudo o que
Mateus diz em forma desdobrada. Segundo as leis que regem a transmissão de um
texto litúrgico, nos ensina o grande mestre Joaquim Jeremias, “sabemos que,
quando uma redação mais curta está assim integralmente contida numa longa, é a
mais curta que deve ser considerada como original”. Destarte Lucas seria mais
original.
A diferença de contextos em Mateus e em
Lucas nos ajuda ainda a entender a diversidade das versões. Em ambos se trata
da oração. Em Mt 6,6-15 onde ocorre o Pai- nosso encontra-se um verdadeiro
catecismo sobre a oração, provavelmente utilizado em função dos neófitos (não
fazer como os fariseus, com muita ostentação; nem como os pagãos, com muitas palavras;
deve-se perdoar se quiser ser perdoado).
Em Lc 11,1-13 também temos a ver com um
catecismo, mas em outro estilo. Enquanto Mateus se destina a judeus que sabem
rezar e apenas devem aprender a rezar retamente, Lucas se destina a pagãos que
não rezam e devem ser iniciados na oração.
Daí que
Mateus é mais litúrgico com tendência a alongar-se, e Lucas mais curto com
tendência a concentrar-se no essencial. De todas as formas, estamos diante de
uma construção poética, com ritmo e rima, para ser rezada, alto, pela
comunidade. As demais diferenças serão discutidas quando comentarmos cada uma
das estrofes. As raízes do Pai-Nosso são, nitidamente, judaicas, embora a
oração de Jesus seja extremamente formal, seca, sem qualquer retórica, quando
comparada com a Shemoné Esré (a oração das 18 bênçãos, na realidade 19), a
Qaddish (orações conclusivas das celebrações) e as diversas espécies de orações
rabínicas.
A versão de
Lucas nos faz entrever como surgiu o Pai-Nosso: “Achando-se Jesus a rezar num
certo lugar, disse-lhe um dos discípulos quando Ele acabou: Senhor, ensina-nos
a rezar como João ensinou a seus discípulos. Disse-lhes Ele então: Quando
rezardes dizei: Pai...” (Lc 11,1-2). A referência a João acena para o fundo
histórico do relato. A pergunta “ensina-nos a rezar” equivalia a: “dê-nos o
resumo de tua mensagem”; sabemos que cada grupo do tempo de Jesus se distinguia
por uma forma própria de rezar.
A oração
tinha a função de uma espécie de credo que conferia unidade e
identidade ao grupo. Assim, o grupo de Jesus se sentia, efetivamente, membro da
comunidade escatológica criada por Jesus.
Por isso que dizemos ser a oração de Jesus a quintessência de sua
intenção e missão. Aí se fala do Pai, Abba, a invocação pessoalíssima
do Jesus histórico, da vinda do Reino, da Providência Divina que cuida do
essencial da vida biológica (pão) e da vida social (o perdão como costura das
rupturas), da grande crise e tentação.
A versão de Mateus define melhor o
significado do Pai- nosso como a forma de oração que Jesus quer, à distinção de
outras maneiras de fazê-lo, inserida dentro de outras práticas de piedade: a
esmola (Mt 6,1-4) e o jejum (Mt 6,16-18).
Se
considerarmos a estrutura do Pai-Nosso, notamos, imediatamente, dois movimentos
que se cruzam: um se ergue para o céu: o Pai, sua santidade, seu Reino, sua
vontade; o outro se dobra para a terra: o pão, o perdão, a tentação, o mal, Ao
céu fazemos votos (3), à terra, pedidos (3). Ou então notamos aí os dois olhos
da fé: um que se ergue para Deus e contemplamos sua luz; o outro se volta para
a terra e topamos com o drama das trevas; por um lado sentimos a força do homem
interior (espírito ) que irrompe para cima (Deus), por outro experimentamos o
peso do homem exterior (carne) que se curva para baixo (terra).
Toda a
realidade em sua grandeza e em sua obscuridade se encontra diante de Deus.
Tanto o desejo infinito para os céus (Pai nosso que estás nos céus...) quanto
as raízes telúricas (o pão nosso de cada dia) para o mundo são oferecia Deus.
Sabemos que
na Igreja dos primórdios o Pai-nosso pertencia à disciplina do arcano; era
reservado somente aos já iniciados no mistério cristão. Daí se entendem as
fórmulas introdutórias, cheias de temor e respeito, conservadas até recente
data: “Advertidos salutarmente pelos vossos ensinamentos e instruídos pela
divina instituição, ousamos dizer: Pai nosso” (do Missal romano, antes da
reforma do Vaticano II).
Justifica-se porque com o Pai-Nosso estamos
diante do segredo de Jesus comunicado aos apóstolos. Não se pode rezar, de
qualquer jeito e com qualquer disposição, a oração que o Senhor nos ensinou.
Ela supõe a percepção de todo o drama deste mundo; sofrendo sob a paixão da
história, nos promete libertação.
O Pai-Nosso,
na verdade, exige ato de fé, esperança e amor. Ao rezá-lo, como notava já
Tertuliano, professamos a Fe em Deus como Pai, apesar do silêncio de Deus, de
sua distância nos céus, do rosário de sofrimento sem conta. Ele é Pai bondoso.
Olhando para o mundo não o constatamos, mas o cremos. É um ato de esperança:
venha o teu Reino, faça-se a tua vontade sempre! Esperamos, firmemente, que o
Pai enxugará todas as lágrimas e modificará as estruturas de sua criação.
Então, só então, sorrirá o shalom de Deus e dos homens. É um ato
de amor. Não dizemos simplesmente Pai, mas Pai nosso. Aqui se
expressa o aconchego e a intimidade do amor; Abba, dizia Jesus,
quer dizer, Papaizinho, Pai bondoso.
Por nós
mesmos, talvez, não tivéssemos coragem de chamar a Deus de Pai bondoso. Mas o
Espírito de Jesus, derramado em nossos corações, reza por nós: Abba, Pai (cf.
GL 4,6; Rm 8,15). Porque nos sentimos filhos no Filho, porque formamos com Ele
a fraternidade escatológica e porque o Espírito nos move, então rezamos:
Pai Nosso
que estais no Céu
Jesus, o
Filho de Deus, leva até à intimidade de seu Pai, todos aqueles que se tornaram
seus irmãos e irmãs. Como filhos e filhas de Deus, têm o direito de chamá-lo
com confiança por um nome que exprime pertença e intimidade: Abba! Pai! (Gl 4,
6; Mc 14, 36).
Quando
dizemos: “Pai Nosso”, apresentamo-nos diante dele com “um coração humilde e
confiante, que nos faz retornar à condição de crianças, porque é aos pequeninos
que o Pai se revela” (CIC 2785).
O símbolo do
céu remete à “Casa do Pai”, a “verdadeira pátria para onde nos dirigimos e à
qual já pertencemos” (CIC 2802). Este símbolo significa, para nós a felicidade,
a paz, a vida em plenitude. Santo Agostinho diz que “estas palavras, ‘Pai Nosso
que estais no céu’ provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em
seu templo” (CIC 2794).
A
paternidade de Deus estende-se a todos, inclusive aos filhos e filhas que têm
experiências negativas com o pai e a mãe terrestres: que não são amados, mas
rejeitados; que não são aprovados, mas censurados; que não são encorajados, mas
condenados; que não são livres, mas oprimidos. Estes encontram em Deus um
verdadeiro Pai e, na comunidade dos fiéis, irmãos e irmãs que lhes permitem
experimentar aquilo que lhes tinha sido negado.
Ter um Pai
no Céu: ter alguém em quem pôr toda a confiança, mesmo quando os pais falham; alguém a quem poder perguntar, mesmo quando as mães não dão resposta; alguém que nos dá irmãos e irmãs, alguém que nos ama e a quem podemos amar.
“Ainda
que pai e mãe me abandonem, o Senhor me acolhe”.
(SALMO
27, 10 )
Santificado
seja Vosso Nome
Santificar o
Nome de Deus é honrar Deus reconhecendo a Sua santidade; é reconhecer e
proclamar que Jesus é o Senhor (Fl 2, 9-11) cujo nome é o único pelo qual
podemos ser salvos (At 4, 12).
• Santificar
o Nome de Deus significa que nós lhe cantamos o nosso louvor, a sós ou em
comunidade.
• Que
manifestemos a santidade de Deus na nossa vida e o tornemos presente em todas
as realidades do mundo.
• Que
façamos de modo que se destaque que o nome de Deus é, para nós, mais importante
do que todos os nomes dos poderosos que temos por “grandes”.
Que rezemos
e ajamos para que o Deus Salvador seja reconhecido por todas as nações. Que
elas entrem também no seu “desígnio benevolente” que nos quer “santos e
irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1, 4.9; CIC 2807).
Santificar o
nome de Deus significa respeitar os outros, criados à sua imagem e semelhança.
Não precisamos rebaixar o nome dos outros, tanto os de perto como os de longe,
receando que o nosso seja esquecido: “Não tenhas medo... chamei- te pelo
próprio nome: tu és meu” (Is 43, 1).
“Nós
Te damos graças, Pai Santo, pelo teu Santo Nome que fizeste habitar em nossos
corações, e pelo conhecimento, pela fé e pela imortalidade que tu nos
concedeste por meio de Jesus, teu servo. A ti a glória, pelos séculos”.
(DIDAQUÊ 10, 2 )
Venha a
nós o Vosso Reino
Entre os
judeus, muitos esperam o começo do reinado de Deus, o seu Reino. Acreditam que
Deus virá, na pessoa do Messias, completar o que eles não podem fazer por si
próprios: vencer os inimigos de seu povo, reinar, de Jerusalém, sobre todas as
nações, ser um rei poderoso sobre o trono de Davi.
Mas Jesus
falou de uma outra maneira do reinado de Deus e do Seu Reino: conta histórias
através de imagens, de parábolas. Diz: O Reino de Deus é semelhante a uma
semente que o semeador lançou à terra (Mt 13, 1-9). E semelhante a um grão de
mostarda que se converteu em uma árvore (Mt 13, 31-32), ao fermento que uma
mulher mistura em três medidas de farinha (Mt 13, 33), a um tesouro escondido
em um campo (Mt 13, 44). Quer dizer com isto que o reino de Deus está no meio
de nós: é a Palavra de Deus que penetra em nossos corações, a vida de Deus que
cresce ocultamente em nós e nos transforma para que demos fruto.
Jesus diz:
“Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: convertei-vos e crede no Evangelho
(que eu vos trago)” (Mc 1, 15).
Por
isso quando rezamos: “Venha a nós o
Vosso Reino”, pedimos ao Espírito que prossiga a sua obra no mundo “ para
santificar todas as coisas, levando à plenitude a sua obra” a fim de que nele
façamos reinar “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (CIC 2818-2819).
Pedir que
venha o Reino de Deus é esperar o regresso do Senhor em glória, no fim dos
tempos. E o grito do Espírito Santo e de toda a Igreja: “Vem, Senhor Jesus!”
Marana tha! (Ap 22, 20, cf. 1 Cor 16, 22). Jesus diz-nos: Abandonai vossos
cálculos. Só Deus conhece o dia e a, hora. Quanto a vós, estejais vigilantes,
vivei na fé, na esperança, na caridade, para não faltardes ao banquete do Pai.
E supliqueis: Venha a nós o Vosso Reino!
Seja
feita a Vossa vontade
Porque Deus
é Senhor e Rei, porque o seu Reino é uma realidade para todos os homens,
perguntamos: o que Deus quer? O que Deus quer de mim? No mundo em que vivemos,
nas nossas sociedades, é a vontade do homem que conta: a vontade do pai e da
mãe, dos professores e dos superiores, dos governantes que promulgam leis. Mas
nem todos se perguntam se o que eles decidem é conforme à vontade de Deus.
• Quando a
nossa vontade se opõe à de Deus, quando
queremos fazer valer o nosso nome,
quando queremos construir o nosso próprio reino, quando não queremos partilhar o nosso
pão, quando não queremos aceitar a nós
mesmos, quando vivemos em oposição uns
aos outros, quando não queremos confiar
em Deus, então, somos culpados.
Erguemos os
olhos para Maria, que disse “Fiat” (sim) quando o anjo veio a ela. E para
Jesus, que disse de si próprio: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que
me enviou e realizar plenamente a sua obra” (Jo 4, 34). Sabemos também que
Jesus orou no Jardim de Getsêmani, na noite anterior à sua morte: “Pai, se
queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas
a tua!” (Lc 22, 42). No dia seguinte, Jesus é crucificado. Os homens fizeram
dele o que quiseram. Mas Deus não o abandonou. Ressuscitou dos mortos o seu
Filho. Jesus é a garantia da nossa esperança. Podemos apoiar-nos nele quando a
desgraça nos bate à porta.
• Não é
vontade de Deus que os jovens se tornem viciados em droga que alguém viva à
custa do outro, que os doentes estejam sozinhos que as pessoas idosas não
contem nada na sociedade.
• Onde quer
que alguém estende a mão ao outro, partilha a sua capa, assiste os doentes,
protesta contra a injustiça, anuncia a Boa Nova de Cristo, se faz a vontade de
Deus.
A vontade de
Deus está na nossa confiança da sua presença em nós, em todos os momentos da
nossa vida, mesmo no meio do sofrimento, mesmo quando temos a impressão de que
ele está longe. Sentimos a vontade de Deus no amor ao próximo, na perseverança
em construir a paz, no cumprimento diário e cristão do nosso dever de estado,
na esperança que nos impede de perder a coragem. Sua vontade é que nos deixemos
“conduzir pelo Espírito de Deus para que sejamos filhos de Deus” (Rm 8, 14).
“Faze
crescer a tua vontade em nós a fim de que encontremos o caminho da verdadeira
liberdade, a fim de que todos nós caminhemos para Ti.
Seja
feita a tua vontade na terra como no céu, ‘a fim de dela seja banido o erro,
nela reine a verdade, o vício seja destruído, a virtude floresça novamente, e que
a terra não mais seja diferente do céu!’” SÃO JOÃO CRISÓSTOMO (CIC 2825)
Que a
vossa vontade seja feita no mundo, a fim de que todos os homens se salvem.
“Ele nos fez
conhecer o mistério da sua vontade, segundo o desígnio benevolente que formou desde sempre em Cristo, para
realiza-lo na plenitude dos tempos... (Ef 1, 9).
“Ele quer
que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2, 3-4).
CF.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2822-2823
O pão
nosso de cada dia nos dai hoje
Na segunda
parte do Pai Nosso, pedimos ao Pai que nos dê o necessário para o nosso
sustento. Rezamos: O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
•
Antigamente, no deserto, os Anciãos de Israel fizeram a experiência do pão dado
por Deus e do modo como ele o dava. Tal como o orvalho da manhã, assim caía o
maná do céu e cobria a terra em quantidade suficiente para ficarem saciados.
Cada um podia apanhar o que necessitava: uns mais, outros menos. Mas aqueles
que faziam reservas, porque não confiavam em Deus no dia a dia, esses viam o
seu pão estragar-se (Ex 16).
Quando
pedimos a Deus o pão nosso de cada dia, queremos dizer com isto tudo o que
necessitamos para viver: o pão eucarístico, o pão e a água, o calor e o lar, o
trabalho e a comunidade, a sua bênção.
Deus nos dá
a terra sobre a qual crescem o trigo e o arroz, a mandioca e o milho: o “fruto
da terra e do trabalho dos homens” para que partilhemos com os que têm fome.
Rezamos
assim:
“Bendito
sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de vossa bondade,
fruto da terra e do trabalho humano, que agora vos apresentamos e para nós se
vai tomar pão da vida. Bendito seja Deus para sempre!”
ORAÇÃO
DE PREPARAÇÃO DOS DONS
Perdoai-nos
as nossas ofensas
A quinta
petição do Pai Nosso consta de duas partes: uma súplica e uma promessa.
• A súplica
“Perdoai-nos as nossas ofensas” é uma oração comum a todos os homens, pois não
existe ninguém sem pecado. Ofendemos a Deus quando não respeitamos a sua
Palavra, quando não nos preocupamos com a sua vontade. Quando pensamos que
poderíamos viver sem ele ou contra ele. Quando construímos o nosso próprio
reino.
A promessa
“assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” é a condição da súplica — e
vai contra a nossa natureza. Saber perdoar é muito mais difícil do que cometer
a injustiça. Quem é ultrajado, traído, enganado ou explorado, pensa em
desforrar-se: Vai-me pagar! Pagarei com a mesma moeda! Saberá quem eu sou!
Nunca te perdoarei! Não falo mais contigo... Os amigos tornam-se inimigos, os
íntimos, estranhos.
Somos todos
prisioneiros de uma engrenagem de injustiça e de culpabilidade enquanto
pensarmos que as represálias são a única reação possível à injustiça sofrida.
Jesus mostra-nos que é possível romper essa engrenagem: rezar por aqueles que
nos perseguem (Mt 5, 44) para que Deus os cumule de sua bondade; fazer de
maneira que o amor seja mais forte que a ofensa e a ira; dialogar com quem nos
causou algum dano; dar-lhe uma oportunidade — e também a nós, na mesma ocasião.
O “mar de misericórdia não pode penetrar em nosso coração enquanto não tivermos
perdoado aos que nos ofenderam” (CIC 2840).
Jesus
nos diz como o perdão é importante:
“Quando
estiveres levando a tua oferenda ao altar e ali te lembrares que teu irmão tem
algo contra ti, deixa a tua oferenda diante do altar, e vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão. Só então, vai apresentar a tua oferenda”.
EVANGELHO
SEGUNDO SÃO MATEUS 5, 23-24
• Perdoa-nos
as nossas ofensas assim como nós perdoamos também aos outros, vem ao nosso
encontro assim como nós vamos também ao encontro dos outros, dá-nos a mão assim
como nós damos a mão uns aos outros, não tem em conta as nossas faltas assim
como nós não temos em conta as dos outros, tem paciência conosco assim como nós
temos também paciência com os outros, dá-nos mais uma oportunidade assim como
nós damos também uma oportunidade aos outros, não nos abandones na tentação
assim como nós nos apoiamos também uns aos outros, livra-nos do mal para que
todos juntos possamos bendizer-Te.
• Perdoa as
faltas que cometi, perdoa também as faltas de todos os homens, meus irmãos.
Dá-nos luz e força para descobrir a abandonar os hábitos coletivos que
acorrentam nosso mundo na injustiça. Que o teu perdão nos assista. Que, por
nossa vez, nos tornemos artífices de perdão, de justiça e de paz.
Não podemos
rezar sinceramente a oração que Jesus nos ensinou, enquanto cada um de nós não
perdoar ao outro, de todo o coração.
Não nos
deixeis cair em tentação
A história
da sedução, do amor traído, começa com o primeiro homem.
A tentação
significa: ser posto(a) à prova, fazer uma experiência que ameaça o meu
equilíbrio, que exige uma “decisão do coração” (CIC 2848). “Cai-se” na
tentação. Na tentação é a minha liberdade que está em jogo. Estou em jogo, eu e
a minha relação com Deus.
Quem quiser
vencer a tentação, terá de se voltar para Jesus. “Foi por sua oração que Jesus
venceu o Tentador, desde o começo” (CIC 2849). Permaneceu fiel ao Pai — e não
em vão. Podemos estar certos de que o Deus fiel nos dará, quando formos
tentados, o meio de sair da tentação e a força para a suportar (1 Cor 10, 13).
Quando
rezamos: “Não nos deixeis cair em tentação”, estamos também pedindo a graça da
perseverança final no momento da nossa morte. “Eis que venho como um ladrão:
feliz aquele que vigia!” (Ap 16, 15. CIC 2849).
Quando
pedimos a Deus que nos preserve e nos fortaleça na tentação, devemos estar próximos
uns dos outros, apoiar-nos e ajudar-nos mutuamente. E velar para que ninguém
tente o outro nem o faça tropeçar. Quando alguém está só, fica fraco e fácil de
derrubar. Quando muitos estão juntos na fé, são capazes, com a ajuda de Deus,
de resistir às forças do mal.
“Não
dirijas os meus passos para o poder do pecado e não me leves ao sabor da culpa
nem ao sabor da tentação nem ao sabor do que é caduco”.
EXTRATO
DA ORAÇÃO JUDAICA DA TARDE
Mas
livrai-nos do Mal
O Mal está
presente em toda a parte; nem é preciso procurá-lo. As catástrofes naturais, os
tremores de terra, as inundações, os acidentes de todo o gênero destro- em a
vida de inúmeras pessoas.
As vítimas
perguntam: “Por quê? O que fiz para merecer isto?” Com frequência, são os
próprios homens que se fazem mal mutuamente. Não podemos confiar uns nos
outros.
Quando
suplicamos “Livrai-nos do Mal”, apresentamos toda a miséria do mundo ao Pai
celeste. Pensamos nas catástrofes que nos ameaçam, mas também no Mal em que nos
vemos implicados, muitas vezes sem querer, ou no qual implicamos os outros.
Pensamos nas leis e nas práticas egoístas e injustas por culpa das quais as
guerras não acabam, os poderosos se tomam cada vez mais poderosos, os ricos
cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres e os assistidos cada vez
mais dependentes.
Como
cristãos, nós não acreditamos unicamente no “Mal”, mas também no “Maligno” (Jo
17, 15). A tradição da fé cristã afirma: isto é obra do Maligno, o inimigo de
Deus, o Diabo. Ele é também inimigo do homem. Quer separar-nos de Deus, seduz e
mente, quer arrastar o homem para o seu lado. Quer afastar-nos da vontade de
Deus e conquistar-nos com o seu plano de ódio e inveja; afastar-nos do caminho
que conduz à vida, ao seguimento de Jesus, para nos levar por um caminho que
nos leva à perdição. O mistério obscuro das forças do Mal nos faz sofrer.
Mas nós
acreditamos que o Deus de Jesus Cristo é mais forte que todos os poderes do Mal
no mundo. Quem se apóia em Deus pode viver sem medo, confiando naquele que
venceu as forças do Mal. No último dia, o Senhor voltará e, com ele, o novo
mundo de Deus, no qual o Senhor será tudo em todos.
Rezamos
assim em cada celebração eucarística:
“Livrai-nos
de todo o mal, Senhor, e dai ao mundo a paz em nossos dias, para que, ajudados
pela vossa misericórdia, sejamos livres do pecado e de toda a perturbação,
enquanto esperamos a vinda gloriosa de Jesus Cristo nosso Salvador”.
RESUMO
Atendendo ao
pedido de seus discípulos (“Senhor, ensina-nos a orar”: Lc 11,1), Jesus lhes
confia a oração cristã fundamental do Pai-Nosso.
“A Oração
dominical é realmente o resumo de todo o Evangelho”, “a mais perfeita das
orações” Está no centro das Escrituras.
E chamada
“Oração dominical” porque nos vem do Senhor Jesus, Mestre e Modelo de nossa
oração.
A Oração
dominical é a oração da Igreja por excelência. E parte integrante das grandes
Horas do Oficio Divino e dos sacramentos da iniciação cristã: Batismo,
Confirmação e Eucaristia. Integrada na Eucaristia, eia manifesta o caráter
“escatológico” de seus pedidos, na esperança do Senhor, “até que Ele venha” (1
Cor 11,26):
A confiança simples e fiel, a segurança
humilde e alegre são as disposições que convêm a quem reza o Pai-Nosso.
Podemos
invocar a Deus como “Pai” porque o Filho de Deus feito homem no-lo revelou,
Ele, em quem, pelo Batismo, somos incorporados e adotados como filhos de Deus.
A oração do
Senhor nos põe em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Ao mesmo
tempo, ela nos revela a nós mesmos.
Rezar ao Pai
“nosso” deve desenvolver em nós a vontade de nos assemelhar a Ele e (fazer
crescer em nós) um coração humilde e confiante.
Dizendo Pai
Nosso, invocamos a Nova Aliança em Jesus Cristo, a comunhão com a Santíssimo
Trindade e a caridade divina que se estende, pela Igreja, às dimensões do
mundo.
“Que estais
nos céus” não designa um lugar, mas a majestade de Deus e sua presença no
coração dos justos. O céu, a Casa do Pai, constitui a verdadeira pátria para
onde nos dirigimos e à qual já pertencemos.
No
“Pai-Nosso”, os três primeiros pedidos têm por objeto a Glória do Pai: a
santificação do Nome, a vinda do Reino e o cumprimento da Vontade divina, Os
quatro seguintes apresentam-lhe nossos desejos: esses pedidos concernem à nossa
vida, para nutri-la ou para curá-la do pecado, e se relacionam com nosso
combate visando à vitória do Bem sobre o Mal.
Ao pedir:
“Santificado seja o vosso Nome” entramos no plano de Deus, a santificação de
seu Nome — revelado a Moisés, depois em Jesus — por nós e em nós, bem como em
todas as nações e em cada ser humano.
Com o
segundo pedido, a Igreja tem em vista principalmente a volta de Cristo e a
vinda final do Reino de Deus, rezando também pelo crescimento do Reino de Deus
no “hoje” de nossas vidas.
No terceiro
pedido rezamos ao nosso Pai para que una nossa vontade à de seu Filho, a fim de
realizar seu plano de salvação na vida do mundo.
No quarto
pedido, ao dizer “Dai-nos”, exprimimos, em comunhão com nossos irmãos, nossa
confiança filial em nosso Pai do céu. “Pão Nosso” designa o alimento terrestre
necessário à subsistência de todos nós e significa também o Pão de Vida:
Palavra de Deus e Corpo de Cristo. É recebido no “Hoje” de Deus corno o
alimento indispensável, (super)essencial do Banquete do Reino que a Eucaristia
antecipa.
O quinto
pedido implora a misericórdia de Deus para nossas ofensas, misericórdia que só
pode penetrar em nosso coração se soubermos perdoar nossos inimigos, a exemplo
e com a ajuda de Cristo.
Ao dizer
“Não nos deixeis cair em tentação”, pedimos a Deus que não nos permita trilhar
o caminho que conduz ao pecado. Este pedido implora o Espírito de discernimento
e de fortaleza; solicita a graça da vigilância e a perseverança final. No
último pedido, “mas livrai-nos do mal”, o cristão pede a Deus, com a igreja,
que manifeste a vitória, já alcançada por Cristo, sobre o “Príncipe deste
mundo”, sobre Satanás, o anjo que se opõe pessoalmente a Deus e a seu plano de
salvação.
Pelo “Amém”
final exprimimos nosso ‘fiat” em relação aos sete pedidos: “Que assim seja!”
Paz para
todos vocês!
Pe. José
Carlos
Nenhum comentário:
Postar um comentário